Do avesso, um verso se ajeita ...




sábado, 18 de junho de 2011

Devaneios, parte1




Eu vi, hoje, um homem de pés descalços, sem rumo, sem calçado, esquecido de viver.

Vi, eu, um homem hoje, sem viver de esquecido, pés de calçado descalçados, e sem rumo.

Um homem, eu vi, sem rumo, descalço, esquecido, de pés, hoje, sem calçado, sem viver.

Sem rumo, um homem, sem calçado, esquecido de viver, hoje, eu vi de pés descalços.

Hoje, eu vi um homem, esquecido sem rumo, sem calçados, de pés descalços de viver.

Um homem sem calçado, vi hoje, eu, sem rumo, de pés descalços, esquecido de viver.

Vi eu, hoje, sem rumo, de pés descalços, um homem esquecido de viver.

Vi, eu sem rumo, de pés descalços, hoje um homem esquecido de viver.



Vi, hoje, uma flor, eu vi ... uma .. vi .. eu .. flor!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Dia de aniversário . .

Queria que esta postagem também fosse diferente, mas, assim como o dia de hoje, não será tanto ..

Pois é, meus caros passarinhos que por aqui voam, hoje é meu aniversário. Dizem-no "meu dia", mas não tenho tanta sorte de tê-lo só para mim. Antes fosse ele meu, com certeza seria muito diferente.

A começar pelo sol que seria azul, e as plantas não estariam pregadas no solo, deixando cair folhas, não mesmo! Estariam elas aqui, pertinho, saudando-me com danças e balanços que só quem é árvore entende. Com borboletas rodopiando sobre mim e sobre meus cabelos, bricando de roda com as fadinhas do meu sonho.

Meus amigos não viriam e voltariam, eles permaneceriam aqui, comigo, nesse dia, nesse meu.

Os rádios estariam tocando, em sintonia, a mesma música, aquela que me embala, que me emociona, que me faz fechar os olhos e cantar fora do tom.

A TV, provavelmente, estaria desligada, e do céu cairíam confetes e tintas do arco-íris que acabara de derreter em minha casquinha de sorvete.

Mainha continuaria comigo no colo e painho fazendo cosquinhas na barriguinha de painho.

Meus irmãos festejariam como se o meu dia fosse deles, o que, na verdade, é. Pois eles são, de mim, uma parte inteira.

Se meu fosse, de verdade, esse dia, Amor me levaria para a nuvem mais alta e de lá ia me ensinar a tocar estrelas [de dia]. Sim, há estrelas de dia, mas só existem no dia que é meu.

Queria muito dizer que hoje é meu dia .. mas tive de acordar hà 24 anos para este mundo, este que a gente acorda no dia do nosso aniversário e recebe abraços mecanizados e tímidos, parabéns com sorrisos poucos e presentes que não deviam falar mais do que os sentimentos.

Que um dia, nesta minha pouca idade que cada ano se prolonga, eu possa dizer que tive um dia só meu, com tudo o que me pertence, com tudo o que me completa, com tudo o que é necessário para ser meu, só meu! E eu sopraria, não a velinha, mas a minha essência para todo àquele que, assim como eu, sonha com um dia todo seu.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Monólogo das Mãos

Para que servem as mãos? As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever...
As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau,
salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário;
Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena;
foi com as mãos que Jesus amparou Madalena;
com as mãos David agitou a funda que matou Golias;
as mãos dos Césares romanos decidia a sorte dos gladiadores vencidos na arena;
Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência;
os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!
Foi com as mãos que Judas pos ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram.
A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda;
o operário construir e o burguês destruir;
o bom amparar e o justo punir;
o amante acariciar e o ladrão roubar;
o honesto trabalhar e o viciado jogar.
Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba!
Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!
As mãos fazem os salva-vidas e os canhões;
os remédios e os venenos;
os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva.
Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para ver melhor.
Os olhos dos cegos são as mãos. As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes;
no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros.
O autor do «Homo Rebus» lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida;
a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem.
Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.
A mão aberta,acariciando, mostra a bondade;
fechada e levantada mostra a força e o poder;
empunha a espada a pena e a cruz! Modela os mármores e os bronzes;
da cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza.
Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza;
doce e piedosa nos afetos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.
O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de felicidade.
O noivo para casar-se pede a mão de sua amada;
Jesus abençoava com as mãos;
as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes.
Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.
Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.
E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.
Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida.





- Ghiaroni (imortalizado por Procópio Ferreira).

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Isso é caso de poesia



Estávamos voltando para casa: meu sobrinho e eu.

No decorrer da viagem, chamei-o para ver as paisagens pela janela do ônibus.

- Vem, titia, corre pra ver a estrada .. - disse eu.

- Não titia. Não quero ver estrada. Quero ver o céu!

- Mas o céu tá longe, ainda, Lindo.

- Mas você vai lá de avião, titia!

- E você não vai?

- Não. Só gente grande vai de avião ..

- E porque você não vai? Tem medo?

- Eu tenho.

- Então como você vai até o céu?

E ele, com um sorriso tão sapeca e uma verdade que muitos já perderam, respondeu-me:

- Eu vou com os passarinhos :)


Que poesia linda tem o coração das criancinhas, não é?