Do avesso, um verso se ajeita ...




segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Enfim, o fim do ano!

Há muito não tenho o que dizer, não por falta, mas por excesso! 
Tenho sentido tanto e colecionando troféus de quem faz muita burrada em pouco tempo. Mas, estamos vivos para tentar fazer diferente no novo ano que daqui a pouco começa. 
Normalmente, como qualquer outro, mas especial por inciarmos uma nova contagem, que seja mais esse início de ano, bem especial. Acumulamos dias e somamos idade, mas quisera neste novo ano dimunuir os passos errados e as bolas foras! 
Magoei muito nesse ano, fui levada até demais, não me importei com os sentimentos dos outros quando os meus pareciam mais importantese, logo eu, que cuido tanto para não decepcionar ninguém, decepcionei quem muito me amou. Mas de uma coisa não me arrependo, de não ter me arrependido! 
Ganheio demais também, Conheci gente que enche-me de vida e me deixa aliviada em saber que existem seres tão maravilhosos nesse mundo. No mais, para 2013, quero querer muito!
Quero cultivar menos verbos inferiores [nova conjugação livre, sem nenhuma correção, porque eu posso!], quero aprender a ser mais "durona" [isso é conselho de idoso e chegou a minha vez de acatar], quero diminuir os pesos e parar de chorar em vão. Quero perder o medo, não é fácil quando se tem alimentado fantasias demais e caído em cima das cinzas das mesmas, também, demais. 
Quero AMOR!
Quero muito amor em 2013! 
Quero amor quando eu desacreditar que posso, quando eu estiver cansada e com frio. Quero amor quando o celular não tocar mesmo eu tendo esperado 24 horas por essa ligação. 
Quero amor quando a pia estiver lotada de pratos e lembrar da felicidade de ter tido todos almoçado/jantado/brincado juntos naquele dia. 
Quero amor quando eu ter de ficar acordada até as 2h da madrugada corrigindo avaliações, inconformada com elas e sofrendo com os que buscaram acertar. 
Quero amor quando o gás acabar e eu ainda estiver de camisola e atrasada para o trabalho. Quero amor quando a bateria do celular acabar e a minha música predileta da playlist eu deletar sem querer. Quero amor quando meus dedos doerem e um dia, enfim, eu conseguir fazer pestana sem colocar tanta força no braço do meu violão.
Quero amor quando o pôr-do-sol atrasar, quando o nascer deste mesmo se apressar, quando a paz insistir em demorar. Quero amor quando eu adoecer e quero amor quando alguém ao meu lado espirrar. Mas, de tudo, quero muito mais amor para continuar saudável! 
E quero amor, principalmente,  para ter o que escrever.

Que seus dias sejam cheios de amor e que tenhamos muito mais do que duas mil e treze razões para continuar acreditando que vale a pena amar! E que esses carinhos nos acompanhe em dois mil e muito mais :)
Boas festas!

sábado, 20 de outubro de 2012

...


- O que é perda?

- Lembra quando a joaninha pousou no seu ombro? Primeiro você se assustou e ficou com medo de se mexer. Aí ela foi descendo pelo seu braço e foi fazendo uma coceirinha gostosa. Você foi gostando e começou a olhar de perto aquele corpinho vermelho e redondinho, pintado de bolinhas brancas como o algodão onde você plantou seu pé de feijão, com perninhas finas igual ao cabelo da mamãe. Você se divertia com os passeios que ela fazia no seu braço até que você, morrendo de vontade dela ser seu bichinho de estimação, tentou pegá-la. Aí ela voou. Perda é quando a joaninha voa.

- Mas eu ainda sinto a cosquinha que ela fazia.

- Isso já é outra coisa, meu filho. Isso é saudade.

[desconheço a autoria]

sábado, 6 de outubro de 2012

MudAR

... de país, de estado, de cidade, de escola, de casa, de roupa, de sonho .. de sonho? Acontece que eu precisei mudar, começando pelo guarda-roupa. Troquei de lugar, de preferência com o espelho voltado para o grande texto que escrevi nele, assim, ao me ver, logo em mim, estará escrito muito coisa. Por dentro, muita coisa antiga, amiga, saudosa, vencida ... Cartas antigas com promessas bem feitas, mas que foram assim e não são mais. Frascos de perfumes que insistiam em perpetuar o cheiro que o vento do esquecimento já tinha se encarregado de levar. Papel de bombom sem brilho e sem gosto, palitos de pirulitos mordidos, ingresso de show's que não rolaram e entrada do cinema recusada. Cd's, gibis, flores de plástico. Tudo que é papel, rasguei. 
Rasguei-me também.
Por um minuto acreditei que mudar dói. Assim como nostalgia. "Nostos" que significa volta, e "algo" que quer dizer dor. Cortella diz então que "nostalgia ficou sendo a dor da volta, a dor daquilo que já se foi e continua doendo". Queria mesmo que só fosse saudade, mas não, era mesmo nostalgia. E cada rabisco antes rasgado, era lido, questionado, perguntado e insatisfeito lamentando o porquê não ter sido futuro também? Talvez porque o tempo de tê-lo existido era aquele.  Talvez por termos mudado.
Mudamos! 
E que bom que na mudança me veio a coragem de jogar fora o que pesava aqui dentro. 
Um coração cheio de poeira ainda ali me olhava, piedoso de não ser jogado fora, que tanto durou ali trazendo lembranças de um dia ter enchido meu quarto de alegria e meu coração de doce. Ou seria o contrário? Mais contrário seria eu me desfazer de algo bom, como um coração presenteado-me em um tempo oportuno e que eu, menina levada, não tive cuidado como deveria, mas cuidei como quem cuida de um passarinho no céu, eu juro! É pena que nem todo entendem, nem todos alcançam o céu dos passarinhos iguais a mim.
Mudei!
Virei o coração pelo avesso e dei-lhe nova cor. Melhor que jogar fora, não é? Pintei meu coração de branco. Branco de limpo, de junção de cores, de folha clamando escritos novos. 
Pintei meu coração e colei nele o que sempre o fez ser meu, bom e feliz. Pintei meu coração com os sorrisos mais bonitos que enfeitam minha vida como ela é. 
Sem mudar suas caras, preenchi meu coração. Cobri as marcas de feridas saradas, cobri e sarei com aqueles que foram e sempre serão remédios para os tombos que me machucam.
Um novo e bonito coração do jeito que sempre foi!
Nova visão ao acordar,  mas as mesmas companhias do amanhecer. 
Mudei muito.
Mudei muito para voltar a ser.

Família que não se escolhe e família que nos acolhe.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Meu Velho, São Francisco.

Sempre que te vejo, manso, terno, querendo gritar desejos internos -  contemplo!
Quanto te toco e que me tocas devagar [ou com força, mas sem pressa] espero e me deixo, querendo entender o mesmo ar que respiramos. Não entendo!
Tento, nós juntos, ser vocês ou te guardar. Passar as mãos nas tuas feridas e soprar para a dor amenizar, e por pouco me saro.
Ah, menino doce, menino velho se Velho não fosse. É meu, sem reclamar, sem economizar no nascer, sem implorar meu cuidado, sem eu merecer. Mas molha em mim, hoje, assim, lágrimas de medo. 
Medo de não ser mais meu, de não me dar o que ainda não me deu, de me deixar orfã sem teus toques adocicados molhando os cabelos meus.
Eu imploro por você, Francisco, que tem nome de doação.
Eu imploro por você que ecoa no silêncio calmo de quem em prece implora cuidado qual fim de oração. 
Ainda assim, teimoso que é, teima em estar aqui, aguando sempre e tanto seu povo que muito te precisa e te rima em canção, não te queremos em pranto, Velho Chico, mas vivo e pulsando como um grande coração.
Todo dia é dia de cuidar!
04 de outubro, é só pra reforçar!
São Francisco, rogai a Deus por nós.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Encontro per_verso



Presente!
E sente.
Quente, faz-me respirar!
Permeio, vagueio, anseio, reencontrar!
Tão só, está. Tão meu, penar. 
Tão mais que horas, vazias, demoras, desejos a sufocar.
Porquês sem findar.
Finais começar.
Soprar ilusões.
Alimento-me pouco, percebo-me muito, faminta de ar.
Os dois. Num só. Solar.
O toque. O cheiro. O pensar.
Despir-se do medo - rompante, sarcástico.
Perder-se em meio aos sonhos - ousados, mordaz.
O mesmo sim.
Inúteis nãos.
Bons, saciados, entregues ao caso, acaso.
Quente, faz-me sufocar!
Perpasso!
Percalço, tortura em parar.
E sente.
E volta. Sem pena, uma pena, penar!
Não mais ser, sequer estar.
Ao bel-prazer.
Findar.
Ausente!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

... menina!

Menina crescida, que bom que seria, se crescida não fosse.
Menina levada, levando topada, bambeia de medo, que antes não tinha.
Menina dos outros, sente saudade de si. Que dói o vazio, que não controla o sentir, e dança sozinha por aí.
Menina de antes, que tudo sonhava, pedia, queria. Menina, cadê?
Menina que escreve e mal fala. Menina perdida, perdida como uma bala. Com pressa e sem ter onde chegar.
Menina quieta, que muito teimava. Que falta te faz.
Menina tão doce, que há? Amarga menina que antes não, tornou-se!
Menina crescida, que bom que seria, se menina sempre fosse.
Menina chorona, feridas sem cura, que agora não sabe assoprar. Que dói muito mais, mesmo sarando. Sarar também dói?
Menina sozinha, sem colo, sem ombro. Onde estão?
Menina, quem era? Por que deixou de ser? Quem fez isso com você?
Menina calada, com água nos olhos, evita chorar. Guarda a tristeza pra quê? Não sabe o porquê.
Menina crescida. Menina de antes. Quanta saudade te enche?
Menina dos olhos, não pisca com medo. Há cisco em todo lugar, mas ainda assim evita entrar, no vento bailar, deixar-se levar! 
Menina, vem cá!
Menina ...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"Dos filhos deste solo, és Mãe gentil!"


Fonte: LizandraMartins/Facebook
Que Pátria és tu, Brasil?

Silêncio, calem-se diante de suas indignações, povo sem vez, voz em clamor. Façam silêncio, a Serpente pode acordar!
Entraram aqui, no lar que sempre foi nosso, e nos prenderam do lado oposto dos encontros perfeitos de nasceres e pores de sol. 
Que barulho de injustiça palpita no meu peito. 
Mas é preciso calar. A Serpente pode acordar!
Das árvores frondosas o podar bem mal feito. A terra, nossa terra, que de leve nos sentia, agora é pisada com botas fortes e riscadas pelas grandes armas do poder que nos defende! Defende?
Defender-nos de quê? 
Defender-nos de um espaço que acolhe famílias, casais, casas, violões e margaridas, olhos, sentidos, vestidos, amigos e meninices que se deixam cair nas águas do nosso, NOSSO, tão acolhedor Velho Chico? 
Defender-nos do brilho inexplicável da luz que nasce, ao pé da cruz, e clareia a vida de quem dorme pouco, porque precisa ter tempo para lutar por algo melhor? 
Defender-nos do espetáculo divino que é o até breve ao sol, e ver a lua querer ser bailarina coroada e refletida no rio?
Defender-nos de ter para onde ir, onde ficar, onde deixar-se ir pra qualquer lugar sem sair daqui? 
Defender-nos do que tão bem nos faz?
Não, gritos! Aqui em mim façam silêncio. É preciso! 
A Serpente agora pode acordar!
Que será de mim longe do que me faz bem?
Que será de mim ver o que é meu sendo tomado?
Que será de mim que não tenho se quer o direito de querer?!
Que será de mim que não sei mais nadar... calar?

Uma pausa para a canção de ninar. Ilha bela, do Fogo que aquece nossa alma, ilha calma, ilha tomada. Ilha indignada!
Façam silêncio revolucionários! Digam aos seus filhos que liberdade é viver preso! Ensinem às suas crianças que o natural não nos pertence! 
Calem seus sonhos!
Despertem seus comodismos!
Desapeguem-se do que é belo e não existe!
A Serpente ... a serpente pode acordar !

FotoFonte: Flávio Henrique/facebook
*Às 1:00 desta manhã de 03 de setembro o exército ocupou a Ilha do Fogo, em nossas Juazeiro/Petrolina, proibindo assim, qualquer acesso à ela. A luta não terminou. Mas os olhos não puderam deixar de marejar e demonstrar a tristeza!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

De todos, o único.

De todas as trilhas que me impulseram a seguir - na estrada mais longa foi onde fiz-me perder; Cá estou caminhando e encontrando no meio do caminho motivos bons para continuar caminhando mesmo que por muito tempo.
De todas as cadeiras que me ofereceram pr'um descanso - aquela azul, de balanço, na varanda da casa velha, ainda hoje guarda a cantiga que faz ninar os meus suspiros.
De todos os drink's oferecidos em mesas de luxo e estendidos à minha sede - o café quente com cheiro doce sempre será o motivo principal do meu salivar.
De todas as músicas inéditas apresentadas nos show's mais iluminados e lotados, ou autografados de presente aos meus ouvidos - a cantiga na radiola que papai ainda sente ciúmes, de LP's, nunca sairá de moda dentro de mim e a melodia será sempre a que embalará as emoções mais verdadeiras e precisas aqui dentro.
De todos os livros que me prenderam a atenção em dias longos - o primeiro gibi que mamãe me trouxe pintado a lápis de cor ainda será o primeiro na fileira da estante como primeira opção de leitura para o meu coração.
De todas as estrelas que apontei o indicador - aquela que meus olhos não conseguiram alcançar é a que mais ilumina as minhas noites escuras.
De todas as tranças bonitas que enfeitaram meu cabelo - o elástico quebrado será sempre a melhor forma de liberdade para eles e para mim.
De todas as palavras confortáveis e bonitas ouvidas nos dias mais cinzas - aquele abraço jamais será substituído por qualquer mundo que teime em ser tão acolhedor.
De todos os textos digitados nas manhãs de compromissos corridos - os rabiscos das madrugadas [muitas vezes rasgados e não lidos por outrem]  sempre falarão muito mais sobre mim.
De todas as missas frequentadas, hóstias tomadas e pecados assumidos - aquela oração no meu quarto em que os olhos se fecham e eu não preciso dizer nada, é onde digo muito e a que mais me alivia a alma. É onde entendo tanto sobre o amor...
De todos os presentes caros que ainda recebo quando um dia é único para eu ser lembrada por muitos - o sorriso de um menino caramelo, sem hora e sem demora, é o que nunca me dará forma de pagar a riqueza que me enche.
De todas as histórias já ouvidas sobre "para sempres" e "felicidades" - nenhuma me dirá tanto quanto a que escrevemos juntos o "sempre" que vivemos naquela noite de verdades.
De todas as juras que pesam nas minhas mãos - aquela eterna de ser cada dia uma pessoa melhor para mim, não descruzarão meus dedos tão cedo.
De todas as viagens feitas por aí, mundo a fora - os momentos intensos de perder-se dentro de mim sempre será a melhor de todas.
De todas as formas que tenho de dizer sobre mim, jamais direi o que sou pois nem isso sei ao certo, e descrever em poucas linhas é finito demais quando se tem muito infinito entre_elas. 
De tudo mais que poderei vir a ser, serei, e sempre assim - simples assim, eu não sei muito bem o que eu sou, mas de algum modo, bem meu, eu sei de verdade quem eu não sou!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

#Diálogos intermináveis ...

- Êita, que já já amanhece, né?
- É mer'mo. Tu sente medo, é?
- De quê?
- De que amanheça?
- Eu não!
- ...
- Eu sinto é saudade!
- Pois então fique, mesmo que amanheça.
- Mas tu sabe que eu não posso ficar. Pelo menos não agora. Não até amanhecer de outro jeito.
- Vixe, que lá vem tu com essas filosofias cheias de coisas que eu não entendo.
- Que filosofias, o quê? Deixe de bestagem. Tu sabe muito bem do que eu tô falando.
- ...
- Sabe, num é?
- Só sei se for de nós.
- Pois é. Sabe ... eu acho que esse mundo é mesmo redondo, viu?
- Ôxe, hahaha. E tu ainda duvidava que era, era menina?
- Sim, menino! Mas no sentido de dizer que ... ah, redondo assim, cheio de voltas. haha, páre de me olhar com essa cara de quem não sabe ler japonês, hômi!
- Mas eu num sei ler japonês mer'mo não, hahaha.
-  Pra mim quem sabe ler silêncio e olhar .. então sabe ler qualquer coisa!
- ...
- Sim, deixe eu dizer do mundo, escute ... que ele dá é voltas, num sabe? É como se existisse um ponto de partida, de onde a gente sai, de onde a gente parte, é lógico, se é de partida, né? Pois pronto! A gente sai e vai em busca de um monte de coisa, de coisas que nos enriqueça, que nos fortaleça, que nos favoresça, de mêimundo de coisa pra encher essa nossa vidinha besta e dar sentido há mais mêimundo de coisas que no fim a gente nem sabe o que é, e pra que é que a gente quer. Mas, daí, assim, como que se tivesse dado essa volta toda, sabe? A gente volta pro ponto de onde partiu, aqui, óh, pro mer'mim. O ponto que era de partida agora é o de chegada, e aí quando a gente chega aqui, no ponto de chegada que era o ponto de partida, a gente percebe que tudo que a gente foi buscar dando essa volta toda por aí, tudo que a gente foi atrás, e que achava ser aquilo o essencial pra vida da gente ... aquilo tudo ... tava sempre era aqui, bem aqui, bem nesse lugar de onde a gente nunca devia ter saído.
- ...
- E tu tava lá quando eu saí, néra? E parece que é quando a gente volta que percebe o que é mer'mo de valor que a gente tem na nossa vida. Deixa pra lá o pai, a mãe, o lençol velho feito dos retalhos dos panos véi de vovó, o pratinho de alumínio que a gente só comia todo se fosse nele, porque, sei lá, tem um gosto diferente e bem melhor. Deixa os grampos de cabelo, esquece a chinela vermelha e deixa pra lá um possível amor de quem nem sabe direito o que danado que é isso que faz a gente tremer as pernas só de ouvir falar o nome.
- ...
- E é a aí que a gente volta e vê, mer'mo sem essas coisas tarem do jeito que a gente deixou, mas algumas ainda estão, e são essas que tão aqui, que mostram pra gente. É como se fosse uma segunda chance, e eu acho que quero mer'mo acreditar que seja, num sabe? Quero acreditar que é outra chance que a vida nos dá, de voltar e encontrar ainda aqui, mer'mo tendo dado voltas, e mudado um pouco a cor, mas são essas, as coisas importantes da nossa vida. Essas que ainda estão aqui, como se fosse nos esperando. Parece alívio, né?
- ...
- Pare de me olhar com cara de quem nunca viu estrela cadente, vá!
- Bonita assim, e rindo? Desconfio muito!
- ôxe! ... Tu também deu uma voltona, num foi? Tá aí com essa mão apoiando o queixo, mas deve ser mer'mo é pensando nas voltas que tu deu... Mas, sabe? Ainda bem que tu voltou pro teu ponto de partida, e que por sorte minha é o mer'mo que o meu. Bem que tu podia se atrapalhar nessas voltas e nem ter voltado, hein? Ave, que nem gosto de pensar, chega esfria um pouquinho aqui, sabe? Já pensou? Tu ter ficado por lá? Nem sei ... Talvez agora tu nem estivesse aqui, e eu nem tinha te encontrado, porque tu tinha ido pr'outro lado, pra o ponto de partida de outra pessoa. Mas não... Tu tá aqui! Isso deve querer dizer alguma coisa, tu não acha?
- ...
- Acho que a gente se encontrou pra valer agora! E acho também que tem muita coisa que a gente vai ter que ajeitar por conta dessas andanças que demos na vida, né? Num pode deixar tudo assim, largado, abandonar de vez. Tem que ter cuidado, não acha?
- ...
- ...
- Fica!
- Pensei que tivesse ficado sem voz. Falei tanto que até esqueci que tu também precisava dizer alguma coisa.
- Quero que fique.
- Mas eu tô aqui!
- E se a gente se perder dinovo?
- Tu acha que vamos? Se bem que eu já perdi tanto nessa vida que acho que já fiz foi aprender a perder ..
- Num sei. Sabe lá se tu vai ter tempo de esperar... 
-...
-...
- E acredito que não vai ser muito difícil também aprender a esperar... E deixe eu lhe dizer mais ... Já andei só por essas voltas aí que dei, sabe? Pense que já dancei com a solidão em boates sem fim, já fui até amiga dela, que tava mer'mo era começando a me fazer bem. Ou pensar que tava. Mas, agora aqui, deitada no teu colo, te olhando e te sentindo, sabendo que teu cheiro ainda é o mer'mim, que se tu tivesse no escuro eu te encontrava só pelo cheiro, e ainda que o mundo usasse o mer'mo perfume que tu, eu ia te achar, porque o teu é diferente, porque o teu é natural, é teu, e sendo teu, é único. E sabe mais? Como disse, já pensei até que podia viver sozinha, mas depois de hoje ... tá vendo? Óh! Os olhos chega enche d'água ... eu não quero mais viver sozinha não ... Depois de hoje, só de pensar em dançar sozinha, em dormir sozinha, em acordar sozinha, mesmo a gente sabendo que todo mundo nessa vida nasce e morre só, mer'mo assim .. pensar em ficar sozinha começa a me doer ...
- ...
- E eu não quero mais que doa. E nem quero que doa em você também. Quem faz bem a gente, merece ser feliz em dobro, num é? 
- ... Não deixa amanhecer não ...
- É só um pouquinho! Só mais um pouquinho e logo a gente não vai mais ter medo que amanheça ...
- Eu não tenho medo!
- Tem não?
- Eu tenho é saudade.
- ...
- Fica!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Amor [nada] antigo

Eles eram jovens demais quando pensavam estarem apaixonados. Ela sempre bobinha, acreditava que ele jamais olharia para seu jeito desengonçado e tagarela de se comportar. Ele quase não a olhava nos olhos e trocava qualquer momento para estar com os amigos jogando bola. Mas quando estavam juntos não queriam outra coisa que não continuarem ali, talvez para sempre fosse muito tempo, mas a infância tem esse poder de querer que tudo seja eterno de verdade. Ele sempre muito tímido. Ela sempre exagerada. Eram jovens demais. Eram demais.
Entre eles nesta época em que seus pais não os deixavam passear sozinhos, umas horas sentados na calçadinha da capela da pequena comunidade que ele morava, era o lugar mais bonito para ela. Era onde ela se sentia tranquila, bem, feliz. Ela entendia de felicidade [ao menos pensava que sim]. Ele sempre lindo quando soltava, ainda que tímido, aquele sorriso faceiro respondendo o "quando a gente crescer a gente casa", dela. Que menina "espivitada". Que menino doce. Que amor inocente.
Despediam-se como se a história do "para sempre" fosse rasgada do livro que eles escreviam, mesmo sem saber. Ela queria mesmo era ficar. Ele não conseguia soltar sua mão, pequena, mas que tinha um mundo todo querendo levá-lo a descobrir enquanto ele ali permanecia, segurando-a.
Mas ela foi embora.
Ele a viu ir embora.
Éramos perfeitos demais para existir. Era bonito demais para ser fácil amar.
Ele cresceu um pouco. Ela tampouco crescera. Mas ao que parece, um ainda pensava muito no outro, ou queriam que fosse assim.
O tempo, que de amigo só tem um pouco quando nos permite alcançar o futuro, foi cruel demais demorando a passar e nos fazer passarmos outra vez um pelo outro.
Na nova cidadezinha a menina vivia, estudava, trabalhava, sem querer ainda sonhava.
Naquela mesma cidadezinha o menino crescia, estudava, trabalhava, sem ela saber no que mais ele sonhava.
Dia desses, antes do dia ser deles, encontraram-se em um dia que deixou de ser qualquer porque estavam juntos. O encontro entre os olhos pareciam não ter mudado muita coisa, e a menina mal conseguia equilibrar-se nas pernas. Que lindo continua ele. Que doce seu sorriso, ainda.
Que tempo!
Eles estavam crescidos, mesmo sem perceberem. 
Eles estavam comprometidos. Ele estava noivo. Ela namorava os ofícios do trabalho sem folga. Ele planejava algo, ela queria ser algo para ele. Uma conversa nada estranha, pois os dois esqueciam dos mundos que agora viviam e entregavam-se aos papos bobos de quando eram jovens demais.
E outra vez despediram-se. Desta vez ele quem foi embora. Cabeça baixa, chutando as pedrinhas no chão, e ela sentada na mesma calçadinha com desejos vivos.
Que sina a nossa. Sempre se despedir...
"Ou não, né Zé? Talvez a nossa sina seja sempre se encontrar".
Juntos outra vez. Neste agora, neste tempo inimigo que rasgou e costurou tanta coisa na gente.
Ele não estava mais noivo. Ela não namorava mais dias turbulentos. Eles sentiam-se livres. Num salão de dança qualquer. Foi ele quem a chamou para dançar. Sem saberem que passo seguir, ela o conduzia, ele a segurava, eles se sentiam, a música tocava. Pela primeira vez eles estavam juntos mais do que perto, sentados na calçadinha. Eles estavam em um abraço só. Seu braço em sua cintura, seu rosto enconstado no dela, suas pernas e pés seguiam na mesma direção e era possível sentir os corações eufóricos.
Dançavam, de olhos fechados e alma aberta.
"E se a gente continuasse?" "E se a música não acabasse?" "E se a gente casasse?" "E se o tempo parasse?" "E se o pra sempre existisse?" "E se nada mais houvesse?" "E se o dia permanecesse?" "E se o sol não nascesse?" "E se a noite durasse?" "E se os dois se amassem?"
Eis que então a menina e o menino estiveram juntos como sempre desejaram. 
E ali se amaram, e ali riram das besteiras um do outro, e ali dividiram a mesma xícara de café, e ali ela tocou sua música preferida para ele, e ali ele deitou no seu colo, e ali eles casaram, e ali eles tiveram seus filhos, e ali eles deram nomes para eles, e ali eles brincaram na chuva, e ali eles viram filme e fizeram guerra de pipoca, e ali eles tiveram um jantar especial em um dia comum, e ali ela telefonou para ele para saber se ele estava bem da gripe, e ali ele já sabia que a TPM dela estava próxima e já tinha três caixas de chocolates guardadas, e ali eles viajaram juntos, e ali eles deitavam na rede da pequena varanda da sua pequena casa, ali eles discutiam e ela batia nele enquanto ele a abraçava com força, e ali ele ficava com raiva, e ali ela pedia perdão, e ali ele quem se culpava, e ali eles viam o sol se pôr sentados no pequeno morro por trás de sua casinha, que ao lado tem uma calçadinha. E ali, "Perfeita Simetria" tocava. 
E ali eles viveram para sempre! 
Para sempre até o ônibus dela chegar e eles voltarem ao mesmo desejo de se encontrarem, para sempre, outra vez.

domingo, 17 de junho de 2012

Disposta a ser oposto!

Sempre chego atrasada, e como sempre, agora já é tarde! Não quero mais que me esperem, aliás, para ser sincera, nunca quis que me esperassem, gosto de chegar e contemplar o que já está acontecendo sem precisar que eu diga já. Não gosto de regras, nem de impô-las. Aliás, sou anti-imposição. Gosto de seres independentes .. eles são tão d[o]ados!
Estou ao contrário. Sendo avesso, o meu melhor lado. 
Enquanto dormem eu tomo banho cantando alto. Se fazem churrasco, eu sento no chão e deixo a água cair e calar o som lá fora. 
Eu durmo quando o mundo acorda. Eu acordo para criança pular enquanto o adulto não aguenta as dores nas pernas e o peso na consciência. Eu não lido com consciência, eu sou consciência, não sei como, mas sei que sim, pois sou de dentro. Contemplo o que os olhos dos outros se acostumaram a ver. É preciso aprender a enxegar. Eles crescem e ficam cegos. Eu nasci com olhos nas mãos, olhos no nariz, olhos que circundam em minhas artérias e fazem-me ver como o coração pulsa quando contemplo o belo! 
Enquanto o varal está cheio de roupas eu me jogo na lama e mergulho, escondendo-me do caos da moralidade condicionada. 
Enquanto abrem os guarda-chuvas eu giro com os cabelos molhados embaixo do ar condicionado que se espreme e molha meus devaneios, que são a minha melhor realidade, pois é nesse momento [que é tão eterno] que sou completa.
Não coleciono borboletas, nem no estômago. Prefiro-as livres, colorindo esse céu que eles sufocam soprando ares cinzas cheios de insensibilidade. Ainda assim, não parecendo, eu sou sensível.
O mundo em guerra e eu bagunço meu apartamento em busca dos meus fones de ouvido! Não, isso não é não me importar. É estar aqui comigo. E não preciso me explicar. Eu não sou explicação para nada. Aliás, sobre nada eu sei muito bem ser. Nada é muito vasto, é infinito, não acaba porque nunca começou. 
Eu me arrependo de coisas que faço, SIM! Eu me arrependo e muito. Mas sei que se pudesse voltar atrás faria tudo outra vez só para me arrepender. Ninguém se arrepende. Eu não sou ninguém. Sou mais. 
Eu risco paredes e guardanapos. Eles limpam vidraças. 
"Eu presto atenção no que eles dizem, mas ele não dizem nada". Chega de atenções de minha parte.
Eu como enquanto o mundo emagrece.
Quando há ventania eu aproveito para soltar pipas. Eles prendem os cabelos e fecham os vidros dos carros.
Eu não sei para onde vou, e eles estão mais perdidos que eu. Espero relâmpagos para entrar no mar, mas eles não me deixam. 
Quero mãos calmas, eles acenam de longe.
Meus celulares não funcionam. Eu durmo quando tenho coragem. E a preguiça me domina. Sou paradoxal demais para uma monotonia de vida besta como essa.
Sou nudez! Enquanto eles calçam botas e vestem casacos sem zíper.
O abismo é um só, mas eu aproveito para voar ... espero que eles não cheguem antes.
[...]
Sobre o que estamos conversando? Ora, sobre qualquer coisa que não é a mesma coisa. 
Sobre o que você quer conversar? Hein?
Sobre livros? Apresente-me os habitantes dele. 
Sobre estrelas? Que noite você prefere? Há uma linda dentro da gente. 
Sobre discos? Música? Posso fechar os olhos agora? Voz? Música não é voz! É silêncio barulhento, que faz batuque bem aqui, sabe? Bem aqui dentro da gente, bem naquilo que a gente é.
Sobre o que quer conversar? Sobre café? É preciso esquentar .. se bem que melhor mesmo é o primeiro, o sabor da primeira vez, ainda muito quente. Podemos fazer outro! Você quer outro?
Não sei ao certo. Mas desconfio de muita coisa que seus olhos querem dizer.
Quer conversar sobre o que? Sobre amor?
Bem ... deixa eu me deitar e encostar a minha cabeça no seu colo.
Sobre isso eu também espero muito com quem conversar. 
Enquanto isso eu só sei falar dele assim. 
Quieta.

domingo, 27 de maio de 2012

Como tudo que é_leve

O espetáculo tinha começado as 20:30 e tudo brilhava com as luzes embaixo daquela grande lona colorida. Os malabaristas aplaudidos incansavelmente por tão bela apresentação de desafiar as leis da gravidade. O mágico que mais parecia um cigano, com tanta carta na manga e ameaças no sorriso que hipnotizava até o vendedor de pipocas. A menina elástico que cabia na caixinha de música como o nosso amor infinito cabe na nossa mão. Surpreendente! 
Como sempre é. 
Como é para ser. 
Antes da segunda parte do espetáculo, o curioso "arrancador de sorrisos" já fazia cosquinhas no meu coração, como sempre. Paixões como a minha por palhaços é realmente incomum. Toda criança normal vive de medo de caras pintadas, mas eu não, eu sempre me pintava para ser verdadeira, e sempre quis ver as verdades por baixo das tintas daqueles seres de narizes vermelhos que faziam minha barriga doer e, ainda assim, em meio a dor, ser feliz!
Leve, assim chamavam o palhacinho sensação daquele mundo mágico. O que me intrigou muito mais, pois costumeiramente os palhaços apresentam-se com nomes de doces, ou outras fescurinhas que são engraçadas lembrar, mas Leve era um nome macio, assim como o significado. Leve era algo além de apresentar, é algo que existe além. Leve é diferente, talvez por eu achar que era mesmo um adjetivo. Eu, sentada no último degrau da arquibancada de madeira, tentei enxergar além da tinta. Olhos que brilhavam, mas um sorriso que muito pouco aparecia. Sim, o dele. Mas ainda assim encantava com os truques que mexiam ainda mais com a minha curiosidade em saber quem ele era.
Quem mais, além de mim, sonha com um amor bobo assim? Alguém que faça graça junto com você. Que não se importe em ser ridículo ao ponto de todos rirem dele. Alguém disposto a ser feliz além do que é necessário para se estar feliz.
- No seu cabelo!
Falou apontando para o lado em que eu estava. Olhei para os dois lados e, agora mais atrapalhada do que curiosa, apontei para mim indagando sobre ser "de mim" que ele estava falando.
- Há outro jardim que caiba uma flor tão bonita no cabelo?
Os assovios vocês conseguem ouvir, eu acredito [sorriso]! 
Passei a mão no meu cabelo e lá estava, não sei como veio, mas agora em minha mão estava a rosa que ele mesmo tirou do bolso do blusão colorido e a fez chegar em mim, enquanto eu me admirava com a facildiade de fazer sorrirem os outros. Enquanto eu me ocupava criando mundos únicos e nossos aqui no espetáculo dos meus pensamentos.
Acabou a primeira parte do espetáculo. Todos iam comprar seus doces e pipocas para prestigiarem a última parte das apresentações. Era mais forte do que eu a vontade de ir até ele, e por ter sido tão mais forte me fez ir.
Parece que por trás das cortinas todo o mundo mágico do circo desaparece. Não existia ninguém ali, ninguém e nada além da minha vontade inquieta de querer abraçar e agradecer por um presente que enfeitaram não só os meus cabelos.
- Perdida, senhorita dos cabelos de jardim?
- [sorriso]
- Pois saiba que de perto esse sorriso é ainda mais lindo.
- Parece que te conheço há muito tempo.
- Desde que resolvemos pintar os medos?
- [sorriso]
- A gente conhece o outro, não adianta!
- E você me conhece?
- Desde que comprou os ingressos e apertou a minha mão, agradecida.
Ah, então era mesmo o moço que estava vendendo os ingressos e me fez mil e uma perguntas sobre vir sozinha ao circo [eu não estava sozinha, apesar de ser]. Que falou sobre o seu gostar por tranças nos cabelos ... e outras coisas que, pela pressa em ver o espetáculo e esquecer o mundo aqui fora, ainda que por algumas horas, fez-me não ouví-lo.
- Então você é o moço dos ingressos? Que coisa!
- Viu? Desde que entrou aqui eu te conheço. Desde que fez trança e me chamou sorrindo de senhor, e com delicadeza perguntou "palhacinha paga ingresso?". [gargalhamos juntos! e ele continuou] - E desde que teve minha rosa, por agora, quero muito que seja minha.
É sério que o amor pode acontecer como um simples truque de mágica?
É simples como a gente pode amar em minutos o que não se amou em uma vida inteira?
Uma flor no meu cabelo. Uma mão agradecida por ser tocada. Dois sorrisos querendo abraçar o mundo um do outro. Dois medos pintados. Um único abraço para sempre. Um beijo para eternizar.
- Leve de leveza?
- Não! Leve de levar ...
E me levou ... como é de praxe. Todas as coisas belas e encantadoras fazem estragos maravilhosos no nosso coração e precisam ir embora! Amor é circo, não é? Levando tanta coisa que foi construída em pequenos instantes, instantes feitos para não serem mais do que aquilo. 
Só instantes!
E ainda hoje quem me vê de cara pintada, nariz vermelho e uma flor entrelaçada na trança do meu cabelo não entende o porquê de eu estar tão leve ... leve, de levada!