Do avesso, um verso se ajeita ...




quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quando o Futuro encontra o Passado ..

Certo dia que virá, andava por aí e aqui, o Futuro, disperso como sempre, que resolveu descansar as buscas e sentar-se em uma mesa de bar não muito movimentado [praticamente sem ninguém, a verdade é essa!]. Pediu uma água, já que depois de tanto wisky sem controle, seu estômago virou bagaço e despercebido como sempre, surpreendeu-se ao vir na mesa ao lado o seu Passado que há muito não mandava notícias do que ficou, por vezes, passado e quase esquecido. Atrevido como antes [não tão mais, mas ainda o era], o Futuro resolveu sentar-se ao lado do Passado para conversar, como sempre sem pedir licença, com sua mania de ser surpresa. Esqueceu-se por aquele instante que o Passado não podia conhecê-lo de imediato, pois há muito não se pensava mais em um futuro tão próximo. Ainda mais com essa nova cor de cabelo.

Como continua jovem o Passado ... Como está crescido esse Futuro!

Mesmo jovem, com roupas velhas o Passado era visto aos olhos do Futuro. Este por sua vez era visto com manias bem bizarras pelo Passado, manias essas que ele nunca se atreveria em si. Se bem que manias não se atrevem, elas nascem junto da gente, né? E em sua maioria são sim, estranhas, algumas bem passadas, outras desacreditavelmente futuras.

O Futuro como sempre crítico, refutando as atitudes suas do Passado que também cobrava atitudes pensadas e não agidas pelo seu Futuro iam discutindo sobre o que eles mais se ocupavam em pensar: a vida. Eram cobranças e mais cobranças, tantas explicações, contradições. Começou a ficar bem chato e a vida estava quase sem interesse em ser pensada.

Ora, não era mais momento para reclamar o que no passado não se fez futuro e o que o Futuro não o aceitou do Passado.

Onde estariam os amores do Futuro se o Passado dissesse sim?

E se o "não" naquele momento fosse dito, o que seria "sim" para o Futuro do Passado?

Onde ficou o sorriso prometido que não acompanhou o Futuro?

Quem leu as cartas não escritas do Passado?

Quem respondeu as perguntas sufocadas?

Por quanto tempo o Passado permitiu ao Futuro sofrer?

Até quando o Futuro irá culpar o Passado por lágrimas ainda existentes e feridas que ainda não se curaram?

Quanta semelhança nas interrogações.

O Passado, agora um Futuro solitário, não sabe ao certo que atitudes podem tê-lo deixado assim. Este Futuro cicatrizado não imagina outra vida sem a que o Passado trilhou até que ele aqui existisse.

Eram mãos e contramãos. Escolhas sempre exigentes e apressadas. Mas de uma coisa o Passado era cheio: de esperança. E não se pode negar que muita coisa era sonhada por esse menino. Enquanto o Futuro aquietava-se na sua insegurança de seguir, no seu aparente cansaço. Um paradoxo de objetivos em comum.

Era estranho para o Passado vir, hoje, o Futuro sem nenhum sonho. Um Futuro reclamão, insistente em querer mudar o destino do Passado. Mas como? Não sabe ele que para ser o Futuro que é, o Passado precisa ser o mesmo? Ser ele mesmo!

Talvez agora compartilhem um drink. O Futuro pode, sendo assim Passado, ainda, aproveitar enquanto as consequências no estômago não existem. Sendo ele Passado, muita coisa pode ser aproveitada outra vez. Para o Passado tudo é novo. Para o Futuro .. é só mais um presente!

Não despedem-se. Não ainda.

Deixa ser mais presente o Presente. Acreditemos que talvez assim o assunto seja mais interessante que ambos, não é?

domingo, 2 de outubro de 2011

Devaneios #2

Espera, deixa eu pensar .. deixa eu conversar comigo para que eu entenda o porquê de eu, ainda, sempre tremer quando ouço falarem em nós. Aliás, em você. Essa minha mania de nunca separar as coisas nossas .. não, não são mais nossas! Agora são as suas coisas, e as minhas coisas. Nossa!

Por vezes eu me atrapalho em qual é a minha escova e a sua. Gosto mais da sua. Preciso agora acostumar-me com a minha. Preciso aprender. Você um dia me disse "aprende, aprende que é mais fácil". Pois é. Quero aprender!

É ruim ter de arrumar apenas um prato na mesa. O outro fica lá, [in]quieto, dá impressão que quer vir. Mas ele não tem que querer, não é? Não é mais nosso.

Espera. Não me ouça. Eu não quero que você saiba que eu sinto falta de mim perto de você. Eu não quero que você se lembre que eu, ainda, não esqueci os nossos tantos "em comuns". Eu não quero. Eu não posso querer. Você um dia me disse: "Nem sempre se pode o que se quer". Pois bem, eu não posso querer!

Saia daqui. Saia e me deixe. Não, não me leve mais. Não me deixe ter segurança do seu lado. Eu preciso aprender a andar sozinha, mesmo que seja naquela corda bamba que minha mão insiste em ser segurada pela sua. Ela não vai mais achar a sua, por isso ela precisa aprender o equilíbrio. Ela tem que ir só. Você já me disse: "Todo mundo é sempre só". Pois bem, tenho que me acostumar.

Leve você daqui. Leve seu lençol quadriculado que muda de cor de acordo com os nossos [que não são mais nossos, puxa!] sonhos. Leve-o. Lave-o. Apague dele o nosso cheiro. Você um dia me disse: "O que os olhos não cheiram, os cheiros não sentem" , não foi bem assim, mas eu entendi.

Limpe a casa. Limpe a bagunça que eu sempre deixo quando chego do trabalho correndo para tomar banho na mesma hora em que você. Eu não preciso mais esquecer a minha toalha. A sua não vai estar lá para ser dividida e ser unicamente nossa. Você um dia me disse: "É melhor agora que ainda tá cedo". Pois é, ainda dá tempo pegar a minha toalha.

Desliga o som. Desliga a minha voz mais alta que ele. Desliga esse tom desafinado que no fundo é bem gostoso por ser nosso. Desliga. Você um dia me disse: [silêncio].

Rasga essa página que não tinha intenção de ser rascunho. Rasga e joga fora, queime, faça o que achar melhor, sei lá! Mas tire ela da contra-capa, esse livro não precisa ter folha de rosto, não precisa mais nem de capa. Não há livro sem nossas letras. Não há de haver. Você já me disse: "Pode não dar tempo passar a limpo". Pois é, não deu!

Espera. Eu queria conversar comigo e acabei conversando com você, sobre nós. Outra vez?

Até quando? Por quanto tempo você vai insistir em permancer aqui pra sempre?

Dorme vai, vira para lá. Descobre teu lençol de cima de mim, e descruza os teus pés dos meus.

Vê se acorda antes de mim e não esquece de fechar a porta do quarto quando sair.

Eu quero esquecer, um pouco mais, que eu AINDA não aprendi!


*ah, e vê se troca o número do celular também!