Do avesso, um verso se ajeita ...




sexta-feira, 20 de abril de 2012

Já é saudade

Hoje quero escrever sobre saudade... 
Sim, saudades, mas não da saudade que estamos acostumados a ler nos olhos de garotinhas apaixo_nadas. 
Saudades de quem está aqui, ao lado, mas não está mais do jeito que sempre esteve, entendem?
Antes mesmo de começar eu já estou com os olhos derramando mundos de saudade. Desculpem-me, mas é que é tão grande a dor dessa saudade que não consigo amenizá-la só escrevendo. Antes disso quero agradecer à você, meu passarinho leitor, que sentou-se para ouvir minhas saudades, e continuar. Eu agradeço, de verdade.
Quero falar de Pai. Sim, Pai, que não é meu próprio pai, mas é tão quanto o meu. Avô dos meus irmãos e dos meus primos, mas meu Pai. Meu Pai que há dois anos foi impossibilitado de viver como antes, com a alegria de antes, com as passadas de antes [des]graças a um AVC. Hoje, meu Pai que, antes, levantava antes do sol, só consegue levantar-se agora com a ajuda de outras mãos. E, nesse momento, minutos antes de eu começar a escrever, nem isso está conseguindo mais.
Meu coração está cheio dele, de seus braços abertos quando víamos da cidade e descíamos da caminhonete, nos finais de semana, para vê-lo. 
Saudades de como ele nos ensinava a jogar baralho e "enrolar" os coleguinhas, mas que a gente nunca aprendia.
Saudades de quando meu Pai cortava as criações e fazia sorteio entre os netos para ver quem ficaria com o rim do bicho, a parte mais gostosa, mas que no fim, todo mundo era beneficiado com a farofa bem temperada que nossa avó fazia para tomarmos café e ficarmos fortes para enfrentar as "labutas de criança" que o dia nos oferecia.
Saudades de quando Pai tomava as decisões da casa, ainda que totalmente enganado, mas sua voz forte, seu pé firme de certeza, jazia a discussão. E ai de quem revidasse se quer com um "ôxe"!
Saudades de quando os senhores caminhoneiros, ou qualquer passageiro perdido nas estradas de nossa vida, chegava batendo as mãos fazendo som de palmas e perguntava se alguém ali conhecia o "véi Nenem da espingarda", ora, sim, pois é Pai! Que de espingarda não entendia sequer onde era o gatilho, mas que de forte, de força e de atitude recebeu esse apelido que para a gente dava orgulho se apresentar como família dele.  E mais feliz a gente ficava quando nos apresentava aos seus amigos como "os seus", sim - Esses aqui são todos meus! - sorrindo ele dizia. Éramos mais que simples netos, éramos todos os parentescos que nos une, éramos e sempre seremos inteiramente seus!
Neném ... Agora mesmo um menino que nem ao menos consegue comer sozinho... Que amanheceu nessa manhã muito triste, mais triste do que o calar dos passarinhos. 
 Despedidas são e sempre serão ruins, não é? Mas despedir-se devagarzinho, dia a dia, de hora em hora, é uma forma de sofrer em demasia. Cada dia é uma nova dor, e cada dia é um novo presente de, mesmo assim, ele ainda estar um pouquinho por aqui.
Saudade de Pai...
Saudade da voz dele...
Saudade de quando ele jogava a toalha de "abanar as muriçocas" em nossas pernas para fazer cosquinhas :)
Saudades demais.
Mas ainda assim confortante porque a gente ainda pode, aqui na cama ao lado, sentir seu cheiro. A gente pode, ainda que com muito esforço dele, receber a sua benção, que mesmo de cabeça baixa, antes mesmo de a gente pedir, ele já levanta, devagar, a sua mão para nos abençoar.
Pode parecer egoísmo meu, vendo todo o seu esforço, meu velhinho, para continuar aqui, mas ainda assim lhe peço: fique! Fique mais um pouco!
Fique mais, meu Pai.
Fique até quando o senhor puder ficar...

sábado, 7 de abril de 2012

...

"Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali."

- Charles Bukowski

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Fases [de mim]

Quando nova, revive em mim tudo novo, de novo! Gosto de estar nova, sempre com outros laços enfeitando meus cabelos. Eles me trazem outros motivos para pensar em nada, em qualquer coisa que não as mesmas, as que minguam em dias menos estrelados.
Minguante eu sou oposto! De tudo o que cresce, floresce, enaltece ... de tudo eu sou o oposto. Não tenho vontade de levantar e clarear quase nada que não a minha própria sombra, sombria!
Dias de bruxas, de verdade, como afirma a fase lunar.
Quando estou minguante o sofrimento é bem cômodo, por mais absurdo que isso seja afirmar. Mas, de certo, é o que sinto, decadência! E como sou observada nessa fase, como sou julgada, como sou .. ainda que só esteja!

Mas logo mais tudo cresce, e eu crescente vou-me deixando ser iluminada. É uma fase otimista para mim, de fato! Tudo tende a dar certo, ainda que difícil seja. Fortalecimento, coragem, determinação, agora tudo iluminado em mim, estando em crescimento, sincronizado no mesmo desejo de viver,
i n t e n s a m e n t e !

E quando cheia estou, quão cheia sou!
De nada preciso pois estou preenchida de muita coisa, inclusive de sonhos que enchem, muito, os meus pulmões e me ajudam a não parar de respirar.
Quanta luz tenho [em mim] quando cheia. Quanta luz espalho. Quanto brilho sai desses olhos meus de menina que adora colecionar estrelas no céu da boca.
Cheia!

E em outros, que nada sou, nem nada estou, nem nada quero ser ou permanecer, eu me calo. E nas caladas de noites mais estreladas, no entanto, refletindo, para que ninguém fique no escuro sem mim, mas que, se possível, consigam enxergar alguns fleches perdidos vagando por céus de ruas estreitas, por onde passo, vezes nova, vezes cheia, mas que abandono quando estou minguante esperando ser crescente para passar por ali radiante , n'outros dias de luz ... Em outros me escondo atrás de algodões e deixo molhar angústias, tristezas e refrescar a alma para enfrentar dias mais calorosos [que incomodam], e é aí, quando chove, que vou me refazendo, vivendo - [re]vivendo.
Dias de noite, noites de dia, fases e faces, de menina, de princesa, de sapeca ou prostituta .. de mim, e delas .. fases nossas, faces de lua!