Do avesso, um verso se ajeita ...




sábado, 20 de outubro de 2012

...


- O que é perda?

- Lembra quando a joaninha pousou no seu ombro? Primeiro você se assustou e ficou com medo de se mexer. Aí ela foi descendo pelo seu braço e foi fazendo uma coceirinha gostosa. Você foi gostando e começou a olhar de perto aquele corpinho vermelho e redondinho, pintado de bolinhas brancas como o algodão onde você plantou seu pé de feijão, com perninhas finas igual ao cabelo da mamãe. Você se divertia com os passeios que ela fazia no seu braço até que você, morrendo de vontade dela ser seu bichinho de estimação, tentou pegá-la. Aí ela voou. Perda é quando a joaninha voa.

- Mas eu ainda sinto a cosquinha que ela fazia.

- Isso já é outra coisa, meu filho. Isso é saudade.

[desconheço a autoria]

sábado, 6 de outubro de 2012

MudAR

... de país, de estado, de cidade, de escola, de casa, de roupa, de sonho .. de sonho? Acontece que eu precisei mudar, começando pelo guarda-roupa. Troquei de lugar, de preferência com o espelho voltado para o grande texto que escrevi nele, assim, ao me ver, logo em mim, estará escrito muito coisa. Por dentro, muita coisa antiga, amiga, saudosa, vencida ... Cartas antigas com promessas bem feitas, mas que foram assim e não são mais. Frascos de perfumes que insistiam em perpetuar o cheiro que o vento do esquecimento já tinha se encarregado de levar. Papel de bombom sem brilho e sem gosto, palitos de pirulitos mordidos, ingresso de show's que não rolaram e entrada do cinema recusada. Cd's, gibis, flores de plástico. Tudo que é papel, rasguei. 
Rasguei-me também.
Por um minuto acreditei que mudar dói. Assim como nostalgia. "Nostos" que significa volta, e "algo" que quer dizer dor. Cortella diz então que "nostalgia ficou sendo a dor da volta, a dor daquilo que já se foi e continua doendo". Queria mesmo que só fosse saudade, mas não, era mesmo nostalgia. E cada rabisco antes rasgado, era lido, questionado, perguntado e insatisfeito lamentando o porquê não ter sido futuro também? Talvez porque o tempo de tê-lo existido era aquele.  Talvez por termos mudado.
Mudamos! 
E que bom que na mudança me veio a coragem de jogar fora o que pesava aqui dentro. 
Um coração cheio de poeira ainda ali me olhava, piedoso de não ser jogado fora, que tanto durou ali trazendo lembranças de um dia ter enchido meu quarto de alegria e meu coração de doce. Ou seria o contrário? Mais contrário seria eu me desfazer de algo bom, como um coração presenteado-me em um tempo oportuno e que eu, menina levada, não tive cuidado como deveria, mas cuidei como quem cuida de um passarinho no céu, eu juro! É pena que nem todo entendem, nem todos alcançam o céu dos passarinhos iguais a mim.
Mudei!
Virei o coração pelo avesso e dei-lhe nova cor. Melhor que jogar fora, não é? Pintei meu coração de branco. Branco de limpo, de junção de cores, de folha clamando escritos novos. 
Pintei meu coração e colei nele o que sempre o fez ser meu, bom e feliz. Pintei meu coração com os sorrisos mais bonitos que enfeitam minha vida como ela é. 
Sem mudar suas caras, preenchi meu coração. Cobri as marcas de feridas saradas, cobri e sarei com aqueles que foram e sempre serão remédios para os tombos que me machucam.
Um novo e bonito coração do jeito que sempre foi!
Nova visão ao acordar,  mas as mesmas companhias do amanhecer. 
Mudei muito.
Mudei muito para voltar a ser.

Família que não se escolhe e família que nos acolhe.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Meu Velho, São Francisco.

Sempre que te vejo, manso, terno, querendo gritar desejos internos -  contemplo!
Quanto te toco e que me tocas devagar [ou com força, mas sem pressa] espero e me deixo, querendo entender o mesmo ar que respiramos. Não entendo!
Tento, nós juntos, ser vocês ou te guardar. Passar as mãos nas tuas feridas e soprar para a dor amenizar, e por pouco me saro.
Ah, menino doce, menino velho se Velho não fosse. É meu, sem reclamar, sem economizar no nascer, sem implorar meu cuidado, sem eu merecer. Mas molha em mim, hoje, assim, lágrimas de medo. 
Medo de não ser mais meu, de não me dar o que ainda não me deu, de me deixar orfã sem teus toques adocicados molhando os cabelos meus.
Eu imploro por você, Francisco, que tem nome de doação.
Eu imploro por você que ecoa no silêncio calmo de quem em prece implora cuidado qual fim de oração. 
Ainda assim, teimoso que é, teima em estar aqui, aguando sempre e tanto seu povo que muito te precisa e te rima em canção, não te queremos em pranto, Velho Chico, mas vivo e pulsando como um grande coração.
Todo dia é dia de cuidar!
04 de outubro, é só pra reforçar!
São Francisco, rogai a Deus por nós.