Do avesso, um verso se ajeita ...




sábado, 6 de outubro de 2012

MudAR

... de país, de estado, de cidade, de escola, de casa, de roupa, de sonho .. de sonho? Acontece que eu precisei mudar, começando pelo guarda-roupa. Troquei de lugar, de preferência com o espelho voltado para o grande texto que escrevi nele, assim, ao me ver, logo em mim, estará escrito muito coisa. Por dentro, muita coisa antiga, amiga, saudosa, vencida ... Cartas antigas com promessas bem feitas, mas que foram assim e não são mais. Frascos de perfumes que insistiam em perpetuar o cheiro que o vento do esquecimento já tinha se encarregado de levar. Papel de bombom sem brilho e sem gosto, palitos de pirulitos mordidos, ingresso de show's que não rolaram e entrada do cinema recusada. Cd's, gibis, flores de plástico. Tudo que é papel, rasguei. 
Rasguei-me também.
Por um minuto acreditei que mudar dói. Assim como nostalgia. "Nostos" que significa volta, e "algo" que quer dizer dor. Cortella diz então que "nostalgia ficou sendo a dor da volta, a dor daquilo que já se foi e continua doendo". Queria mesmo que só fosse saudade, mas não, era mesmo nostalgia. E cada rabisco antes rasgado, era lido, questionado, perguntado e insatisfeito lamentando o porquê não ter sido futuro também? Talvez porque o tempo de tê-lo existido era aquele.  Talvez por termos mudado.
Mudamos! 
E que bom que na mudança me veio a coragem de jogar fora o que pesava aqui dentro. 
Um coração cheio de poeira ainda ali me olhava, piedoso de não ser jogado fora, que tanto durou ali trazendo lembranças de um dia ter enchido meu quarto de alegria e meu coração de doce. Ou seria o contrário? Mais contrário seria eu me desfazer de algo bom, como um coração presenteado-me em um tempo oportuno e que eu, menina levada, não tive cuidado como deveria, mas cuidei como quem cuida de um passarinho no céu, eu juro! É pena que nem todo entendem, nem todos alcançam o céu dos passarinhos iguais a mim.
Mudei!
Virei o coração pelo avesso e dei-lhe nova cor. Melhor que jogar fora, não é? Pintei meu coração de branco. Branco de limpo, de junção de cores, de folha clamando escritos novos. 
Pintei meu coração e colei nele o que sempre o fez ser meu, bom e feliz. Pintei meu coração com os sorrisos mais bonitos que enfeitam minha vida como ela é. 
Sem mudar suas caras, preenchi meu coração. Cobri as marcas de feridas saradas, cobri e sarei com aqueles que foram e sempre serão remédios para os tombos que me machucam.
Um novo e bonito coração do jeito que sempre foi!
Nova visão ao acordar,  mas as mesmas companhias do amanhecer. 
Mudei muito.
Mudei muito para voltar a ser.

Família que não se escolhe e família que nos acolhe.

3 comentários:

  1. Oi, Jamý, boa noite!!
    Mudar exige demais de qualquer coração. Embora a maioria das mudanças ocorram visando ajudá-lo, ele não quer ser ajudado nisso. Mudanças são para trocar coisas de lugar, para jogar algo agora inutilizado, para trazer coisas novas à cena... Qual coração quer isto?
    Mas a vida ensinará, a duras penas, ao coração, que mudar era necessário, mesmo sem ser querido, mesmo ser ser pedido, mesmo sendo rejeitado.
    A vida sempre nos ensinará que mudar às vezes é o único jeito de forçar o coração a ser novamente um sonhador...
    Um abraço
    Lello

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    1. A duras penas, sim, na maioria das "curas", não é? Mas quem sabe, um dia, esse nosso coração aprenda, ao menos, saber lidar com essas dores da mudança, a tão necessária mudança de qualquer coisa que hoje jão não cabe mais nele.
      Abraços, querido!
      É sempre uma alegria de brilhar os olhos, sua presença por aqui.
      Bons dias!

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  2. Lindo lindo lindo! dá vontade de gravar no coração, na alma, na pele. Minha menina azul, mudar faz-se necessário para nossa sobrevivência, e só faz bem, renove-se, despetale-se florminha, para que novas pétalas possam surgir (e florir).

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