Do avesso, um verso se ajeita ...




quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Nossa última primeira vez!

Estou quase no último trago deste cigarro e no último gole desta bebida que ainda me deixa com a boca seca, mesmo depois de ter matado toda a minha sede de noites como essa. Está escuro lá fora, o vento decidiu calar e meus cabelos sentem falta do balanço que ele trazia quando a janela ficava sempre aberta, mas esta foi a última vez em que deixei de abri-la, estou me fechando.
É! Outra vez!
E agora é pela primeira vez, a que será última.
É a oitava vez que a mesma música toca, mas a letra me conta o que eu preciso ouvir, como se fosse a primeira vez que a ouço. É a última vez que eu me permito ficar assim, e a primeira que eu vou seguir sem essas lembranças de ter você sempre pela última noite, ainda que com gosto de primeira ...
Eu sei, eu sei, não precisa repetir aqui em minha cabeça que eu sabia que seria assim. Que nossos primeiros encontros precisavam estar preparados para que entendêssemos que seriam os últimos, mas foram tantos primeiros que me acostumaram, tantos últimos sem fim, tantos fins iniciados sem término, tantos términos começados outra vez .. Que confuso!

Que porcaria de vinho que não acaba, que merda de cigarro que não me sacia a dor da ansiedade.
Jurei que não mais iria trazer para mim as lembranças da nossa primeira última vez.

Não lembraria mais das vezes em que você batia na minha janela, que mesmo aberta te esperava bater, em dias de chuva ou de muito calor, louco de saudades, e me pegava no colo, atravessava meu vestido com o olhar e me beijava como se tivesse medo de, ao parar, perder o ar. E depois de tanto calor compartilhado antes pelos corredores, em cima da mesinha da minha cozinha, e agora em meu lençol de borboletas e depois acalmados com um banho juntos, você vestia sua cara de pau e ia embora, dizendo que não voltaria mais, que era para o meu bem .. que se danem o nós, não é?
A força com que eu batia a porta era para que eu ouvisse, de verdade, que era a última vez!
A última vez cheia de desejos, de primeiros desejos, de vontades loucas, de tesões insaciáveis, carícias tão profundas, nossos corpos juntos, dentro um do outro, já conhecidos, ainda que como se fosse o primeiro encontro, pois cada novo sentir era único. Cada novo gesto, novo som, novo anseio, nova loucura, novo gemido, novo suspiro, novo sorriso, novo, dinovo ... e último.

Último porque tinha de ser.
Último porque era intenso demais para continuar, precisava ser todo naquele momento. Era nosso e era aquele!

E sabíamos.

E vivíamos.
O erro talvez tenha sido vivê-lo outras vezes, sendo últimas.
E termos gostado.
E termos deixado chegar onde chegamos.
Eu não podia me apaixonar, não por você, e não você por mim!

"Eu não moro na sua vida, eu não procurei por você !"

A música não acaba de tocar e eu não páro de pensar nessa noite que passou. E esse vento que agora tornou-se insistente, bate na minha janela fechada e aumenta ainda mais a minha tragada.
Que vontade [in]voluntária de me abrir, de me entregar, de me devolver, de esperar na janela .. droga!
Quem mandou levar amor pra cama?
Preciso de mais um drink, esse não saciou o desejo que deveria ser o último.

Últimos que jamais deveriam ter sido primeiros, e mais intenso ainda, últimos que jamais poderiam ter sido únicos!

É a minha primeira última noite sem você .. ainda que meu desejo fosse de que , essa noite, fosse a sua última primeira sem mim.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Enfim, acabou!

Deu meia-noite.
Tudo em mim refloresceu.
Uma voz interior surgiu.
Um pedido de que tudo que fosse novo, dinovo, chegasse.
Uma lembrança teimosa.
Uma ausência pouco doída.
Uma esperança adormecida.
Um possível novo tentar estava nos meus planos, preciso confessar.
Um sorriso guardado. Uma vida!

Saí. Cheguei. Sorri.

E lá estava ele.

Lindo ainda.
Os mesmos olhos verdes me olharam, saudosos, ou era só impressão?

Lembrei dos outros dias de fim de ano que nos olhávamos e ele sorrindo me perguntava, e agora? Eu só dizia: "enfim, acabou!"

Depois do primeiro gole de champagne ele segurava a minha mão e dizia, no meu ouvido, mas agora é um novo, e começou!
Eu deveria dar um abraço? Não.
E por que não? Sim!

Caminhei em sua direção.
Fogos insistiam em tomar lugar, mas as estrelas não deixavam.
Elas eram barulhentas enquanto eu caminhava [estou falando, sim, das estrelas].
E no momento em que pensei que via apenas nós dois naquele mundo de gente sem cor, uma nova pessoa apareceu ao lado.

E elas? Elas pararam de fazer barulho lá no céu.
Pararam.

E agora eu só ouvia os fogos!

Eu só conseguia enxergar aquilo que os olhos veem.
Tava ficando escuro.

E ele estava chegando mais perto no meu caminhar em sua direção.
E eu pude ver melhor, agora.
Na sua mão direita que da minha tanto foi apoio e carinho, outra segurava.
Já estava muito perto. Não podia desviar o caminho, era óbvio demais que eu caminhava até ele.

E fui.
Continuei.
Eu o abracei, e baixinho no seu ouvido, junto com os votos de um ano que para ele eu quero que seja bom, eu disse: "e enfim, acabou!"
[e ele sabia que não era do ano que eu estava falando!]

... foi por isso que ele não soltou a mão dela, não é?!