Do avesso, um verso se ajeita ...




quinta-feira, 28 de abril de 2011

...



"Eu tenho muitos amigos, eu tenho discos e livros . . .
Mas quando eu mais preciso, eu só tenho você!"


segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Até loguinho"

Era pra ser uma conversa simples [ok, não tão simples], mas queria que vocês entendessem que, vezenquando, os passarinhos precisam voar .. e sozinhos!

Eu queria dizer a vocês tudo o que eu disse de forma que eu não precisasse baixar a cabeça para não sentir a dor que é dizer 'até logo', 'até loguinho', um gosto chatinho de 'tchau', mesmo.

Eu queria pegar nas mãos de vocês e trazê-los comigo, e mostrar a vocês essa nossa e nova estrada que está diante de meus sonhos. E queria que, assim, de mãos dadas, vocês sentissem e, só por sentirem junto comigo, aliviassem o meu medo.

Eu queria que vocês não ficassem tristes me vendo alegre. Nem ficassem mais tristes me vendo triste, também.

Queria que vocês soubessem que, estou com muito sono, mas não por cansaço, mas por ter ficado a noite toda pensando em como vou ficar sem vocês quando o sol apontar nas minhas segundas, terças e quartas-feiras .. e também nos outro dias que a gente insitia em ter de se ver, pra não deixar ser saudade grande. Mas, apesar do sono, quero estar sempre acordada se isto for contribuir em algo bom pra vocês.

Eu queria que vocês não me deixassem ver medo em vocês, sem mim. Eu sei que não tenho tudo o que queria ter para lhes darem, mas tenho grande orgulho, e digo isso com muita humildade, de ter-lhes dado o que de maior valor eu tenho em mim: meu amor!

Eu queria que seus olhos não me fizessem ver os meus em reflexos de lágrimas suas.

Eu queria que os seus olhos não fizessem os meus virarem mar. Com sal e tudo!

Eu queria que vocês não precisassem ver-se sem mim.. nem eu queria ter de, um dia, me ver sem vocês ..

Mas, meus pequenos [que vocês insistem em querer me provar que cresceram], chega uma hora em que é preciso!

Eu vou .. Eu voo .. mas eu volto!

E eu quero voltar pra perto de vocês e, não mais queria, mas, agora, quero ver os mesmos olhos chorosos que pareciam despedidas insatisfeitas, encherem-se de fé em tudo o que eu consegui ganhar voando, mesmo um pouquinho longe de vocês. E quero mais .. quero, nesses horizontes que vou ousar visitar e vez ou outra pousar por algum tempo, trazer cheiro de crescimento e passá-lo em vocês. Pois é por vocês e para vocês que eu vou ali e volto já .. viu?

- pois, a lição vocês sabem: 'eles passarão .. mas nós .. nós passarinhos' ^^

[Aos meus queridos filhinhos do PJA]

sábado, 23 de abril de 2011




“Não haveria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado. Se não fosse amor, não haveria desejo, nem o medo da solidão. Se não fosse amor não haveria saudade, nem o meu pensamento o tempo todo em você. Se não fosse amor eu já teria desistido de nós.”




[Caio Fernando Abreu]

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Essa mania de amar demais ..

Acredito que é o que vem me deixando desanimada e sempre pra baixo .. é essa minha mania de amar demais!

Nunca soubera a medida de gostar de alguém, até porque isso acontece com tanta raridade em minha vida. Amo sem perceber, sem ver, sem, vez ou outra, querer! Quando dou por mim, estou amando .. e o pior [ou melhor?] amando muito, amando demais, amando de verdade!Não que isso seja errado, não é isso!
Mas, como você sabe, amar de mais resume-se em: sofrer mais, chorar mais, pedir mais, cair mais, mais .. bem mais!

Tenho mania de me doar, quando amo. Tenho mania de sentir as dores do outro, quando amo. Tenho mania de arrancar o sofrimento do outro para mim, quando amo. Tenho mania de me esquecer só para me lembrar do outro, quando amo. E daí, o que acontece? O outro não me ama demais, como eu. Sim, eu sei que existem pessoas que nos amam, não da forma que queremos que nos ame, mas nos amam como podem, mesmo sem saberem demonstar e blábláblá, eu sei .. mas não me conforta saber disso!

Amo como se deve amar. Amo sabendo que o outro é importante, que o que ele sente é importante, que sua vida, independente da minha é importante, que eu me importo, porque isso é importante.
Amo sorrindo de verdade. Amo porque o abraço é involuntário, mas a demora não, e a força também. Amo porque quando vou dormir, só fecho os meus olhos quando ouço sua voz me assegurando de que o seu sono vai ser bom. Mesmo em pensamento eu ouço isso, só porque eu amo. Amo porque é lindo te ver desarrumado, sem perfume, sem sapatos e com dor de barriga. Amo porque quando chove eu te imagino comigo, juntinho, embaixo do seu lençol [ou pode ser do meu, o amarelinho], vendo 'A prova de fogo' pela décima vez e você me beijar no final. Amo porque mesmo roncando [sim, você ronca, RUM!] eu acho lindo seu sono. Amo porque você não vive sem café. Amo mesmo você se esquecendo a minha cor preferida e eu achar isso um absurdo e você não. Amo porque andar de mãos dadas para mim é a maior prova de segurança. Amo porque sei falar em silêncio .. e aí mora o problema. Você não aprendeu a me ouvir!

E é tão ruim quando não me escuta. Talvez por não me amar assim.
Só amam demais os que tem coragem! Coragem de enfrentar a dor de se sentir só, ainda que acompanhada.

Ah, e se eu desaprender a amar? Será que resolve? Será que melhora? Será que cessam esses gritos em lágrimas que saem de mim quando penso que amo demais .. como agora?

Tudo culpa minha!
Tudo culpa dessa minha mania de amar demais!!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

- Que quer dizer “cativar”?

- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. - Significa "criar laços" ...

- Criar laços?

- Exatamente - disse a raposa - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo ...

- Começo a compreender - disse o oequeno príncipe - Existe uma flor .. eu creio que ela me cativou ...

(...) Mas a raposa voltou a sua idéia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

E a raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! - disse ela.

- Bem quisera - disse o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? - Perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mau-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora - disse a raposa. - Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua - disse o principezinho - eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis. - Disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! - Disse o principezinho.

- Vou - Disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou: - Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste a ninguém. Sois como era minha raposa. Era uma igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Agora ela é única no mundo. E as rosas estavam desapontadas. - Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob uma redoma. Foi a ela que eu abriguei com o paravento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três que tornarak-seborboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus - disse ele...

- Adeus - disse a raposa.

- Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que perdi com a minha rosa que a tornou tão especial - repetiu o principezinho a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade - disse a raposa. - Mas tu não deve esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


[ O pequeno príncipe, pág's 66 à 72 - Antonie de Saint-Exupéry]

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um jardim, uma menina, o silêncio!

Até os 8 anos de idade eu era uma criança normal. Como todas as outras [ou, ao menos, como a maioria] eu acordava às 6 horas, ia para escola, as aulas começavam às 7 e meia. Brincava de “casinha” durante a tarde e à noite ia para a esquina, mais precisamente na rua A. Lá estavam meus companheiros de “bandeirinha guerreou”, “sete cacos”, “se esconder”, “trisca”, “cada macaco no seu galho”, e outras tantas que cada noite renovava as energias para um sono mais cheio de vontade. Aos 9 anos mainha nos levou para outra casa, n’outra cidade, n’outro estado e, de primeira e finita impressão, outro horizonte [nos tantos sentidos que você for capaz de aludir]. A rua era estranha, deserta. Não tinha mais do que 5 casas, estas bem afastadas umas da “minha” .. minhas tarde não tinham mais “casinha”, dormíamos cedo pois não podíamos sair, era feio lá fora, só grilos, só sapos, só nadas .. Sem amigas a opção era brincar com meus irmãos [e que bom que os tenho, né?], só lamento eu ser minoria, eles sempre tinham o privilégio de escolher as brincadeiras e, como sempre, eu sempre ficava com a ‘pior parte’ delas ... pião – o meu sempre era o alvo e quebrava; pipa – sempre cortavam minha linha e rasgavam-na só por ser a mais bonita; polícia e ladrão – eu era a polícia , nada contra, mas que é chato ser polícia, ah é! ¬¬; Power ranger – o que implicou em hematomas por todo o corpo e um olho quase cego; futebol – eu era goleira ‘-‘ e pesca, que dentre todas era a que eu mais gostava, apesar de ser sempre eu quem tinha de enfiar a mão na lama para pegar as minhocas ou matar aqueles calangos feios para servirem de isca [ai, como ainda hoje eu tenho nojo dele, argh!]; É, eu sofri .. mas eu era bem feliz! Na minha rua tudo me causava medo. O mato do lado esquerdo, o açude fundo aos fundos, uma olaria abandonada à direita, uma casa lá em cima, no topo da ladeira, e em frente, ele, lá estava, bem na minha janela: o cemitério.

Nossa como era estranho amanhecer e ao abrir a janela a primeira visão ser grandes cruzes em cima de enormes ‘catatumbas’. Era como se a cada manhã elas nos lembrasse que breve, bem logo, estaríamos ali dentro .. O cemitério era enorme, muro baixo, sim, mas comprido. Sua extensão ia quase até o centro da cidade. Para irmos para escola gastávamos quase 30 minutos para fazer a volta, “arrudiá-lo”. Todos os dias, mais pelas tardes, chegavam novos moradores no cemitério. Os choros me atraiam para o basculante da janela. Muitas pessoas, uma só ficava. Ficava. Só!

Fiquei triste, por um instante, imaginando-me só, ali .. Uma noite chuvosa .. a rua ficou alagada. Sem calçamento, a abundância de água provocara enormes buracos, barrancos de lama, nem carro, nem moto, bicicleta, quem dirá a pé .. impossível passar. Era dia de avaliação na escola. Mamãe, como sempre, achara solução para tudo. Pelo cemitério havia uma passagem, uma estradinha, uma parte do muro quebrada. Entraríamos e sairíamos quase no centro, na rua calçada, à poucos quilômetros da escola. Fomos. Eu e meu irmão. Um gesto que me deixou e, depois desse dia, deixava cada vez mais feliz me marcou essas idas pelo cemitério: ‘as nossas mãos dadas’. Um protegia o outro ao tempo em que era protegido, ou queria sentir-se assim. Entre cruzes, flores, covas, sepulturas imensas e enormes, atravessamos o medo. Enfrentamos, de mãos dadas, a sombria visão que nos fazia não abrirmos a janela de casa. Vez em quando eu me permitia ler alguns nomes, algumas mensagens de despedidas, umas frases, fotos aqui e ali .. imaginei-os na minha mente. Suas vidas, suas histórias, agora vazios espaços, saudades permanentes! Quanta gente ali calada. Quanto silêncio. Quanta paz ... Passaram-se os dias chuvosos, mas continuávamos caminhando pelo jardim silencioso. Algumas vezes com meu irmão, outras sozinha. Algumas vezes, sem perceber, estávamos apontando covas, admirando algumas sepulturas pintadas de preto, outras de azul, algumas com azulejos cheios de flores .. dias nos deparávamos com despedidas. Mais um morador no jardim, mais um para completar silêncios. Ricos, pobres, negros, brancos, idosos, crianças, mães, pais, filhos, mulheres, adolescentes .. era ali que eles findavam quando não acordavam mais. Todos! Do mesmo modo. No buraco, coberto de terra!

Eu me vi crescendo.. 12 anos. O que eu era? O que agora sou? Uma menina, num jardim. Quando queria silêncio, eu ia para lá. Passeava entre os corredores de moradias eternas, vezes me atrevia a conversar com eles [não, não chegava a ouvi-los, eles são quietos demais]. Mas o silêncio .. ah, este sempre me agradara. Eu gosto da voz mansa do silêncio, ela me deixa ouvir a minha com mais nitidez. Hoje, os mortos não me assustam mais. Aprendi com eles o quão efêmera é a vida, o tempo em que sua importância é incalculável. Enquanto acesa, valorize-a. Depois de pálida, cessam os sonhos, os sons, os segredos, os sentidos .. não tenho medo dos mortos, não mais. Hoje, tenho pena dos vivos!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

"


"Algumas pessoas nascem para sentarem na beira do rio ..

Algumas são atingidas por raios ..

Algumas tem ouvido para música ..

Algumas são artistas ..

Algumas nadam ..

Algumas entendem de botões ..

Algumas conhecem Shakespeare ..

Algumas são mães ..

e algumas pessoas ...

algumas pessoas dançam!"


[in: O curioso caso de Benjamim Button]

terça-feira, 12 de abril de 2011


"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."


[Fernando Pessoa in 'O Desassossego]

domingo, 10 de abril de 2011

Deixa ser sem data!

- Amor?

- Psiu .. não faça barulho, pode acordar seu sono .

- [sorriso] Mas eu estou acordada .. e você? O que faz aqui a essa hora?

- Que hora? Não é você quem diz que o tempo não pode existir entre nós dois?

- Como você entrou aqui? Que eu me lembre a porta está trancada ..

- E como parece que você esqueceu, temos duas chaves ..

- Mas na nossa última discussão você disse que a tinha jogado fora e que ..

- A mentira costuma dominar quando a raiva amedronta o amor, não é?

- Amor?

- Psiu .. não precisa ter dúvidas!

- Eu nunca tive .. só estou triste.

- Sabe que .. depois que nos separamos eu percebi o quanto é ruim te ver?

- E por quê?

- Porque ver você sem mim é como se meu corpo andasse vagando sem alma ..

- Não exagere. Cada alma é um corpo. Você tem a sua, eu tenho a minha ..

- Mas depois que há nós, ela é só nossa. E a nossa não sabe viver sem o nós.

- Está com frio?

- Por quê?

- Está tremendo! - Sim ..

- Quer que eu o cubra?

- [sorriso] Isso é um perdão?

- Não, isso é um lençol!

- [ sorriso maior]

- [ sorriso menor]

- Você continua linda ..

- 25 de junho de 2007

- O quê?

- Foi a última vez que ouvi isso de você ..

- Você gosta de lembrar ..

- E você gosta de esquecer!

- Faz sempre questão por datas?

- Acho que é importante lembrar ..

- Mas o acontecido é mais importante que o dia, ou não é?

- O dia é tão importante quanto o acontecido .. mas você não entende!

[silêncio quase incômodo]

- Vestido com flores, alaranjado, cabelos presos em partes .. hesitou no meu primeiro toque, segurei suas mãos, estavam frias, estavam trêmulas .. beijei seu queixo, ajeitei alguns fios de cabelo por trás de sua orelha, toquei seu brinco - era uma pedrinha que piscava, não mais que seus olhos nos meus, você abaixou a cabeça, eu a suspendi devagar .. Nossos lábios se tocaram ao tempo em que nossos olhos se fecharam, e se esqueceram por um instante do mundo, se deixaram ali, em minutos que sumiram, em noite que se intimidou a acabar .. você sorriu, eu sorri .. Meu coração ouvia o seu, seu coração tocava o meu .. Minha alma e a sua, agora saberia que seria, só uma, só nossa. 05 de novembro de 2006 ...

- Amor!

- Não é o dia que me faz te amar, meu amor! É você que me faz amar o dia ..

- 10 de abril de 2011 ..

- Eu te amo!

- Deixa ser sem data!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Perfeição


Vamos celebrar a estupidez humana, a estupidez de todas as nações, o meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões!

Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão. Vamos celebrar nosso governo e nosso estado que não é nação. Celebrar a juventude sem escolas, as crianças mortas, celebrar nossa desunião!

Vamos celebrar Eros e Thanatos, Persephone e Hades. Vamos celebrar nossa tristeza, vamos celebrar nossa vaidade.

Vamos comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado. Todos os mortos nas estradas, os mortos por falta de hospitais.

Vamos celebrar nossa justiça, a ganância e a difamação.

Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos. Comemorar a água podre e todos os impostos, queimadas, mentiras e seqüestros ...

Nosso castelo de cartas marcadas, o trabalho escravo, nosso pequeno universo! Toda a hipocrisia e toda a afetação, todo roubo e toda indiferença. Vamos celebrar epidemias ..

É a festa da torcida campeã ..

Vamos celebrar a fome. Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar. Vamos alimentar o que é maldade, vamos machucar o coração ...

Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos.

Tudo que é gratuito e feio. Tudo o que é normal!

Vamos cantar juntos o hino nacional. A lágrima é verdadeira!

Vamos celebrar nossa saudade, comemorar a nossa solidão.

Vamos festejar a inveja, a intolerância, a incompreensão .. Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada.

Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso, nosso descaso por educação. Vamos celebrar o horror de tudo isto, com festa, velório e caixão.

Tá tudo morto e enterrado agora, já que também podemos celebrar: a estupidez de quem cantou essa canção ...

Venha!

Meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa só a verdade me liberta. Chega de maldade e ilusão!

Venha!

O amor tem sempre a porta aberta e vem chegando a primavera, nosso futuro recomeça

Venha!

Que o que vem é Perfeição! ...


[Renato Russo]

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vou-m'Embora!


Sim, estou decidida! Vou-me embora.

Já desfiz as malas, esvaziei o peso, joguei fora as tralhas e roupas velhas, tranquei as portas .. vou partir e desta vez, de verdade!

Não que das outras fosse mentira. Mas é que desta vez eu vou por inteira! Sempre tive medo de gente. Sempre tive medo de solidão. E sempre achei que uma coisa não podia viver no mesmo ambiente que a outra. Mas, hoje, sei que é possível. E como é ruim quando nos sentimos sós no meio de tanta gente.

Essa é a pior forma de ser sozinho. Aglomerado de pessoas me sufoca, parece que meu fôlego está sendo roubado, sei lá! Isso é estranho. É, talvez eu não quisesse assumir o que sempre em mim foi óbvio: eu sou anti-social! Não é que eu não goste disso. É que, eu sinto saudade do lugar de onde eu vim, sabe? Por isso estou indo embora. Na verdade estou voltando pra casa.

Levarei tudo de que preciso: meu corpo, meu cheiro, meus cabelos [presos não mais], minhas mãos desta vez quietas, meu sorriso sorrindo junto com os meus olhos, meus pés sentindo o abraço do chão, minha alma leve e livre como ela tem de ser. É assim que eu vou. É assim que eu sou mas que, ultimamente, este mundo obrigou-me a sufocar. Mas agora já deu. Estou indo para o meu lugar.

Onde as pessoas existem e vivem - não sobrevivem. Onde as pessoas não andam apressadas, nem com a cabeça baixa dando mais atenção ao celular do que às pessoas que passam por elas, ou que estão ao seu lado. Estou indo para o lugar onde as pessoas, ao toparem em mim na rua, peçam-me desculpas, ou se sou eu quem as topo, aceitem as minhas, ao invés de sugerir, com arrogância, que eu compre óculos novos. Que bom que no meu lugar nem de óculos eu precisarei mais.

Estou indo embora para o lugar onde os idosos não são puxados, pelos seus companhantes, por seus agora, frágeis braços, nem precisem ficar horas em filas de banco e/ou hospitais esperando para serem ‘mal’ atendidos.

Vou para onde as pessoas respondem o meu ‘bom dia, boa tarde e boa noite’ quando eu os cumprimento no ponto de ônibus, mesmo sem conhecê-los. Aonde os meus amigos passam por mim e, ao perguntarem como estou, esperam eu responder e não que saem correndo, atrasados, cansados.

Estou indo para lá.

Lá as pessoas não revidam mágoa com mágoa, violência com violência, dor com dor, ferida com ferida. Lá as pessoas não só sabem o significado da palavra perdão, como a vivem de verdade. Lá é o meu lugar. É onde eu me sinto, apesar de só, cheia de companhia. Cheia de mim, cheia de poesia. Quem não entende, quem não compreende, vai me chamar de louca, eu sei. Mas quem é feliz nesse mundo normal? Normal? Isso soa estranho. Acho que normal sou eu. Eu que não me conformo com filhos gritando com pais, com alunos desrespeitando professores, adolescentes espancando idosos, adultos abusando crianças, gente maltratando animais ... normal sou eu que morro com tudo isso!

Normal é lá para onde eu vou.

...

Pés descalços agora.

Cabelos soltos, livres tocando minha face.

Braços abertos a espera do abraço.

Todo ar eu trago para dentro de mim.


Adeus mundo, vasto mundo, tão imundo!

Adeus!

domingo, 3 de abril de 2011

A-paixão-nada


Paixão, então, é tudo?

Não, senhor.. paixão é nada.

"Tudo" pode ser visto, "tudo" pode ser tocado, "tudo" pode ser contado. "Tudo" é pouco, tudo é muito pouco ... Tudo que há, tudo que não há. Mesmo tudo que não há é contado, não há isto ou aquilo. Isto ou aquilo.

Já o nada, ah, o nada, o nada é muito mais que tudo. Nada é tão amplo e tão extenso que ultrapassa, como diz a poeta, qualquer entender.

"Nada", como consta no dicionário, é a ausência de quantidade. A ausência de quantidade, a ausência de explicação.

Paixão, meus caros, é a soma de todos os nadas.

Apaixonada, sim estou apaixo-nada. Ausência de quantidades, de explicações. Minha paixão se sente muito mais completa no nada, na extensão de seu significado, na ausência de entendimento.

Apaixono-me,

apaixão-nada.


- Desconheço a autoria -