Do avesso, um verso se ajeita ...




sábado, 8 de março de 2014

Sem 8 de março

Foto: Campanha Dia da Mulher é Todo dia,
pág.: Moça você é Machista/Facebook
Quantos 8 de março deveremos aproveitar para celebrar o dia de ser aquilo que já somos todos os outros dias?


Quantos 8 de março esperaremos para sairmos às ruas e bravarmos nossos merecimentos de respeito e direitos valorizados?

Quantos 8 de março teremos de viver para compreendermos a força que temos juntas?

Eu gostaria de responder: NENHUM!

Se fossemos verdadeiramente valorizadas, respeitadas, reconhecidas e etecéteras não precisaríamos de uma dia específico ou data simbólica em que amanhã, no amanhecer da aurora, tudo volta ao "normal" de dias de estupro, violência, humilhação, desigualdade e injustiça!
Não quero ter 8 de março se não posso caminhar tranquila sem ser assobiada ou assediada com palavras chulas e cantadas sebosas!
Não quero ter 8 de março se não posso usar meu short curto pois ele atrai a minha culpa de ser desejada e estuprada pelos instintos de seres nojentos que se acham no direito de me usar/abusar/denegrir/humilhar .. porque EU fiz por onde!
Não quero ter 8 de março se não posso usar no meu filho uma camiseta rosa ou na minha filha um boné do X-Men [queuamo!] e ser julgada como incetivo à distorção de princípios morais e naturais dos gêneros.
Não quero 8 de março se minha opção em não ter filhos for sufocada por alofones ensurdecedores de que EU TENHO QUE PROCRIAR! Porque faz parte da minha função nesse mundo cão!
Não quero ter 8 de março se sou vista como submissa se minha opção foi simplesmente cuidar da casa, ter filhos e ser feliz assim!
Não quero ter 8 de março se minha maternidade não for bem vista por eu ser solteira e ter querido ser mãe assim.
Não quero ter 8 de março se meu patrão acha que para merecer acréscimos no meu salário não importa a minha habilidade profissional, basta prová-la na cama com ele! 
Não quero ter 8 de março se não tenho direito algum sobre o meu corpo, se não posso ter desejos sexuais, se preciso reprimir meu gozo, meu gemido, meu orgasmo! 
Não quero ter 8 de março se minha maneira de me vestir não agrada padrões ou se minhas celulites afetam a visão de quem assiste bostas manipuladoras! 
Não quero ter 8 de março com rádios barulhentos e composições fétidas sobre minha conduta e comportamento, sobre meu prazer e querer, sobre o meu gingado submetido a ter de aceitar um lepo lepo medíocre! 
Não quero ter 8 de março enquanto as buzinas atrás ou ao lado do meu carro insistirem na certeza do "perigo constante" debochado. 
Não quero ter 8 de março e continuar do jeito que estamos! Não quero ter, nem quero ser .. quero continuar em qualquer dia sendo o que sou. Quero parar de utopias e viver! Deixem-me viver! 
Deixem-me ser!




_Jamý Dantas, em um 8 de março qualquer!