Do avesso, um verso se ajeita ...




domingo, 29 de maio de 2011

Exatamente assim ..



"Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar."


[Caio Fernando Abreu]

sábado, 21 de maio de 2011

A menina que "rouba" sorrisos

Ela tem cabelos longos e cheios de liberdade, mesmo estando presos, a maior parte do tempo. Mas, ainda, são livres.

Ela tem dois grandes olhos, um diferente do outro, o que os tornam muito iguais. A singela diferença é que um brilha e o outro reflete. Se bem que o brilho o qual o que reflete brilha quando reflete o reflexo do que brilha os tornam muito, como disse, iguais e diferentes. Bem confuso isso, não é? Pois assim, também, é a menina que rouba sorrisos. Ela é bem confusa quando tenta falar de sua vida, de sua força de vontade, de seu sonho em passar no vestibular, confusa na maneira de me deixar vê-la. E para não se perder, ela nos confunde com uma maneira tão sua de sorrir e, ao mesmo tempo, nos arrancar sorrisos.

Ela é calma. Quase não desconfiamos das suas artimanhas em nos arrancar o que temos. No meu caso, presos. Sim, meu sorriso anda [ou, agora, andava] preso. Estava sentindo a triste hora de ele acabar. Sorrisos guardados cessam facilmente do ‘estoque’, sabiam?

Mas essa menina, de cabelos livres e diferentes olhos brilhosos e iguais, roubou-me os muitos que estavam, ainda, guardados em mim. De mansinho, e leve como um cheiro bom de mar, ela foi me roubando em meus sorrisos. Tão sapeca que eu nem desconfiei. Sabem bem como atuam os roubadores de sorriso, não é? Eles sorriem com a alma. Eles são muito espertos.

E vejam só que coisa! Os sorrisos que essa menina me rouba [toda vez que sorri para mim] estão cada dia mais fartos aqui dentro. Quanto mais sorrisos ela me rouba, mais eu os tenho.

Pois bem, dona menina que me rouba sorrisos. Tenho grande prazer de ser roubada por você, ainda que doam as minhas bochechas e que façam formiguinhas inquietas na minha barriga, a sensação de ter sorrisos de sobra, quando roubados, me mantêm muito melhor!


“E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir. E só.” [C.F.A.]


[Feliz aniversário, Sandrinha :)

domingo, 15 de maio de 2011

♪ Eu que não amo você . .

Eu que não fumo, queria um cigarro. Eu que não amo você, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não bebo, pedi um conhaque pra enfrentar o inverno que entra pela porta que você deixou aberta ao sair . .
Senti saudade, vontade de voltar. Fazer a coisa certa. Aqui é o meu lugar !
Mas sabe como é difícil encontrar a palavra certa, a hora certa de voltar. A porta aberta, a hora certa de chegar . .

Eu que não fumo, queria um cigarro. Eu, que não amo você, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não bebo, pedi um conhaque pra enfrentar o inverno que entra pela porta que você deixou aberta ao sair.
O certo é que eu dancei sem querer dançar. E agora já nem sei qual é o meu lugar!
Dia e noite sem parar, corro o risco de encontrar a palavra certa, a hora certa de voltar.
A porta aberta, a hora certa de chegar . .

Eu que não fumo, queria um cigarro. Eu que não amo você, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não bebo, pedi um conhaque pra enfrentar o inverno que entra pela porta que você deixou aberta ao sair . .


[♪ Engenheiros do Hawaii]

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A morte devagar

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.


[Martha Medeiros]

terça-feira, 3 de maio de 2011

Por 5 minutos .. Só!

Provavelmente devem ser umas 2 horas da madrugada agora. O plantão está tranquilo, 'grazadeus', mas eu não consigo aquietar o que aqui dentro insiste em me manter acordada e pensativa.

A noite anterior, como disse assim que acordei, tomando café com mamãe, foi uma noite tão boa e tranquila que .. ah, foi boa! A esperança era de que o dia fosse tão bom quanto ela.

Saí cedo para organizar uns documentos a cerca de minha carteira de habilitação. Durante a tarde fui à faculdade buscar o meu tão querido e 'suado' diploma de conclusão de curso. Não vou negar que deu um pouquinho de saudade daqueles corredores cheios de sorrisos de Pablo, Thiago, Nisse e Vânia, e eu, claro, juntos, brincando de 'filosofar literaturas modernas' [rs]. Porém, o estresse da ponte [ainda] em construção, os ônibus lotados, o calor de suportar por obrigação e as intolerâncias e arrogâncias dos cobradores e motoristas, eu não senti nenhuma falta.

Por isso voltei de barquinha. Como sempre, admirada e admirando o Velho Chico, desejando que o sol se pusesse assim que o barco estivesse no meio da travessia, mas esse danado resolveu demorar um bocadinho e acabei não sendo contemplada com esse espetáculo sem preço.

Peguei o ônibus de volta para casa, lotado, mas fui salva pelo meu mp', que presenteava meus ouvidos através dos fones, com a bela e prazerosa voz de Gessinger. Vez enquando eu me atrevia colocar a cabeça para fora da janela e sentia a força do vento de tardezinha, deixando ir embora as pequenas frustrações da viagem diária, cantando exageradamente 'Surfando Karmas' e as pessoas me olhando com olhar de .. de gente que não entende, entende?

Cheguei em casa [e isso é sempre muito bom].

Apesar de ainda com algumas pendências sobre o 'novo emprego', tive de ir scanear uma documentação que, "pense num negócio trabalhoso"? E foi desd'então que 5 minutos tornaram-se para mim, os momentos mais importantes de hoje em diante ..

Eu poderia ter saído umas 19h horas, com isso gastaria 5 minutos até a Lan House, as 19:05 eu estaria lá scaneando o documento, e, provavelmente, gastaria mais 10 minutos, tanto pela demora da máquina, como pela maciez do rapaz ... 19:15, eu estaria indo para a reunião com o orientador de oficinas do teatro e, chegando lá, voltaria reclamando por ele não ter ido e eu ter dado "viagem perdida". 19:30 estaria, eu, indo para a casa dele, vê-lo, desta vez mais cedo, para que assim voltasse também mais cedo e resolveria o restante das coisas, inclusive ler o enorme Projeto que estamos realizando.

Quase uma hora com ele, que passariam depressa e me fariam demorar mais.

Mais quase meia hora e ele teria vindo me deixar em casa, e nós teríamos ficado um pouquinho mais juntos e, por volta de 20:45, ele estaria voltando para casa, antes de ter estado fazendo piadinhas com painho e, chegando, ligaria para me desejar "boa noite, meu anjo", e eu responderia: -e para mim, também? Ele sorriria, através de um sopro gostoso no telefone, explicando para mim pela infinita vez que 'meu anjo' era eu :)

21:00 .. eu estaria descansando meu corpo do estresse do dia, mas ainda assim sorrindo por ter beijado ele, abraçado ele, acariciado seu cabelo e ter mordido seu dedo indicador fazendo-o fazer carêtas ...

Mas não .. Justamente hoje, eu resolvi sair de casa 19:05 .. e justamente esses 5 minutos adiante, foram suficientes para, invés de 20:45 ele estar em casa; 20: 45 estar ele caído no chão .. Justamente no mesmo horário, exato momento em que a outra moto entrou na contramão e colidiu com a dele.

5 .. 5 pequenos minutos fizeram da minha [nossa] noite a mais turbulenta e preocupante. Ele sangrando, com dores, caído .. eu chorando, tremendo, sofrendo. Estresse com a demora da ambulância, desespero com a pressão da polícia, impaciente com o alvoroço dos curiosos.

5 grandes minutos, fazendo minha noite se estender por longos pensamentos, e algumas linhas neste caderno [que agora estarão digitados por aqui].

Como fazem diferença .. como modificam as coisas, os fatos, os casos .. 5 minutos.

Agora, provavelmente 2:25 da madrugada, a enfermeira me pede para esperar uns 5 minutinhos para ter notícias. Os 5 minutos mais esperados até hoje.

Poi bem! 5 minutos .. ele sai.

Abraço-o .. não por 5, agora por 10, para assegurar de que não me tirarão dele em 5 minutos, outra vez.

[Melhoras Amor ...]