Do avesso, um verso se ajeita ...




sábado, 20 de agosto de 2011

Por isso, eu sou esse texto!

Talvez a verdadeira intimidade eu só tenha buscado com as palavras, e tenha me entupido delas no momento em que poderia estar aprendendo alguma coisa com alguém. (Faço um muro de palavras entre mim e as pessoas. Sou autoexplicativa só pra confundir.)

Talvez eu tenha nascido para uma vida desapaixonada e culta. Talvez eu nunca tenha olhado verdadeiramente o outro, e só tenha visto o texto pronto que criei pra ele. Talvez eu não conheça o que julgava conhecer. E isso me entupiu de certezas que eu não soube abandonar ao longo do caminho.

Uso palavras para não sofrer, para plagiar uma dor, pra fingir que sou leve e que está tudo bem. Uso palavras pra falar de uma chuva que talvez eu não conheça porque não me permiti ficar encharcada dela. E ela virou a metáfora de um relacionamento_ o que pode ser tristemente poético.

Talvez eu só tenha sentido saudade pra falar de outras coisas. Pra usar a palavra "saudade" mesmo, que eu adoro. Acho que estou muito cansada. Falei demais das coisas e , no entanto, não toquei verdadeiramente em nada. Observei e descrevi, cheia de filtros semânticos. Dentro da minha limitação eu interpretei o Universo para que eu coubesse nele, em mim. E alienei as pessoas dentro de conceitos. E arranjei um sentimento pra cada coisa. E pensei que assim, tudo estaria em ordem, sob controle.Eu que me julgava não julgadora, me considerava livre, agora tendo que empurrar as grades dessa prisão de certezas que criei pra mim. Sem poder culpar ninguém. Usando um discurso de alguém que não quer magoar o outro pra descobrir que no fundo só me importei comigo mesma e com os meus medos. Não deixei que o outro experimentasse o que havia de melhor ou de pior em mim. Não deixei que ele escolhesse. Mantive o muro de palavras e o meu discurso pronto pra continuar a salvo do outro lado. Eu que sempre falei de pontes...

Talvez eu seja uma farsa. Talvez eu seja virtualmente inacessível. Alguém que se entope de adjetivos pra entender as coisas e dizer que não se preocupa em entender nada. Eu que sempre falei de amor, não amei o outro em toda a dimensão da pessoa que ele é. Talvez eu tenha me preocupado mais com as vírgulas que não usei nas cartas de amor que escrevi, que com as pessoas que as receberam e que se julgaram amadas.

Talvez eu só tenha dançado pra fingir que gostava de música. Talvez eu só tenha bebido pra fazer parte de um círculo social. Talvez eu só tenha aceitado certas coisas pra poder ser chamada de amiga_ e usei levianamente a palavra amizade.Talvez eu tenha me apaixonado diversas vezes pra fazer parte do círculo de pessoas que sorriem diferente porque estão amando_ e sofri as carências que intercalam as paixões como se fossem reais. Talvez eu tenha rompido relações pra escrever cartas de despedida e mostrar como eu dominava a dor ao escrevê-las. Talvez eu só tenha experimentado as relações dentro da literatura.

Acho que estou realmente cansada. Falei demais sobre tudo e continuo no escuro. E a minha recusa em tocar nas coisas me impede de sair tateando em direção à luz. E mais uma vez eu uso palavras pra tentar me defender de algo, de mim. (Talvez eu precise parar de ler Clarice Lispector...)

Talvez eu devesse escrever uma carta em branco pra dizer que quero silenciar: que se o silêncio ainda estiver esperando por mim, eu aceito. Preciso esquecer as palavras, preciso me despedir delas para começar a experimentar a vida com honestidade. Talvez silenciando eu consiga ser mais honesta com você. Eu que precisei escrever tanto pra dizer isto: que preciso silenciar.

(Talvez eu só tenha escrito isso tudo pra conseguir chorar... E usar a palavra "talvez" pode ser o início do abandono de tantas certezas; o início do uso mais corriqueiro da frase “eu não sei".)


[Marla de Queiroz]

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sensações ..

Eu me perdi, perdi você .. Perdi a voz , o seu querer.
Agora sou somente um. Longe de nós um ser comum.
Agora sou um vento só. A escuridão. Eu virei pó, fotografia, sou lembrança do passado.
Agora sou a prova viva de que nada nessa vida é pra sempre até que prove o contrário!

Estar assim, sentir assim: turbilhão de sensações dentro de mim.
Eu amanheço, eu estremeço, eu enlouqueço, eu te cavalgo embaixo do cair da chuva eu reconheço ..

Estar assim, sentir assim: turbilhão de sensações dentro de mim.
Eu me aqueço, eu endureço, eu me derreto, eu evaporo, eu caio em forma de chuva eu reconheço.

Eu me transformo ...

[Paula Fernandes]

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A hora é essa!

Saia desse quarto. Páre de chorar. Limpe as mágoas e as tristezas .. agora!

Diga sim ao convite! Se você quer, vá! Se você é, seja!

Abra sua mão, aceite a quem te convida para dançar, tome um banho demorado, não pense! Feche os olhos, deixe a água cair no seu pescoço, levante os braços e cante alto. Exugue-se, mas deixe a água do seu cabelo escorrer pelas suas costas, e o mais refrescar seus pensamentos, isso é bom!

Separe a roupa mais confortável, que seja velha, o importante é que é sua e que você se sente bem dentro dela. Use-a como se estivesse usando uma pele. Passe perfume, aquele que todo mundo gosta, mas que você ama. O que tem seu cheiro dentro. Passe nas mãos e as cheire. Veja se seu cheiro fica depois que você sai, é uma forma de eternizar a sua presença, ainda que por instantes .. Deixe seus cabelos soltos e suas [pre]ocupações presas. Ligue para avisar que está pronta! E vá .. saia sorrindo.

Saia já sabendo que vai ser bom! Porque se você o fizer, vai ser.

Despeça-se de sua mãe e lhe peça a bênção. Ela vai ficar feliz pela companhia que você sempre busca ter e a encontra atravéz de sua mão beijada com um "Deus te abençõe".

Encontre as companhias que te gostam perto, abrace-as, agradeça por elas estarem bem e te fazerem bem, também.

Andem, de mãos dadas ou não, mas andem juntas. Conversem sorrindo. Elogie a noite, e como "estamos" belas nela. Agradeça outra vez, desta vez em pensamento.

Ouça o som, conheça seu espaço, respeite os dos outros e dance!

Dance como quando você dança quando está sozinho no quarto, ou quando toma banho e quase escorrega. Dance de olhos abertos, de olhos fechados, de olhos juntos, de olhos .. mas dance!

Cante! Cante sem saber cantar, mas cante. Ouça sua voz junto com o som das outras vozes e a reconheça, e goste de sua voz ainda que desafinada. Não fique rouca. Mas se ficar, tudo bem. Só não fique muda.

Se for na grama, tire as sandálias e deixe os passos sentir as raízes que tem. Levante os braços e mostre as suas asas a altura de ir além.

E vá! Deixe-se ir ..

Beba .. Não beba até cair, beba para refrescar. Que seja água, mas que seja! Beba para agradar o calor.

E se chover, molhe-se nela. Dance com ela, olhe para ela e deixe pingar na sua pupila, mesmo que doa, tudo dói. Mas tudo dói menos do que não sentir.

Brinque .. ria .. seja exagerado no sorriso, mas que seja sorriso!

Agradeça, agora só sorrindo.

Abrace. Abrace como se você não mais pudesse abraçar. Abrace como quem não quer perder, nem se perder. E beije! Beije .. pode beijar. Desde que não seja qualquer beijo, mas que seja o beijo da vontade. O beijo que faz o abraço prolongado se perder nos olhos fechados na noite que a chuva cai molhando seus cabelos soltos. Beije como se fosse o último beijo da sua vida.

Toque nas mãos da companhia que te faz bem. Toque dedo por dedo, encontrando os seus, sem se prenderem e se perderem. Dance juntinho. Veja se o coração conhece quando o outro bate junto.

Deixe o som parar. Mas não páre!

Deixe a luz apagar, mas não apague o hoje que você está.

Volte para casa. Volte bem.

Agradeça por ter voltado, também por ter ido. Ter vivido. Ter se permitido.

Saiba que a companhia que lhe é de importância também voltou e está junto. E que não há outra pessoa que lhe trará alegrias assim que não seja essa companhia que você traz. Olhe para ela. Chamam-na espelho. Mas o que há nele é muito mais que um simples reflexo. É a sua companhia.

Sorria para ela. Esteja bem com ela. Cuide dela. Valorize-a ..

Ninguém dá ao outro aquilo que ele não tem para si.

Por isso tenha a sua companhia e não deixe ninguém sozinho quando estiver junto com você.

Viva.

A hora é essa! E 'essa' merece ser pra sempre ..