Do avesso, um verso se ajeita ...




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Amor [nada] antigo

Eles eram jovens demais quando pensavam estarem apaixonados. Ela sempre bobinha, acreditava que ele jamais olharia para seu jeito desengonçado e tagarela de se comportar. Ele quase não a olhava nos olhos e trocava qualquer momento para estar com os amigos jogando bola. Mas quando estavam juntos não queriam outra coisa que não continuarem ali, talvez para sempre fosse muito tempo, mas a infância tem esse poder de querer que tudo seja eterno de verdade. Ele sempre muito tímido. Ela sempre exagerada. Eram jovens demais. Eram demais.
Entre eles nesta época em que seus pais não os deixavam passear sozinhos, umas horas sentados na calçadinha da capela da pequena comunidade que ele morava, era o lugar mais bonito para ela. Era onde ela se sentia tranquila, bem, feliz. Ela entendia de felicidade [ao menos pensava que sim]. Ele sempre lindo quando soltava, ainda que tímido, aquele sorriso faceiro respondendo o "quando a gente crescer a gente casa", dela. Que menina "espivitada". Que menino doce. Que amor inocente.
Despediam-se como se a história do "para sempre" fosse rasgada do livro que eles escreviam, mesmo sem saber. Ela queria mesmo era ficar. Ele não conseguia soltar sua mão, pequena, mas que tinha um mundo todo querendo levá-lo a descobrir enquanto ele ali permanecia, segurando-a.
Mas ela foi embora.
Ele a viu ir embora.
Éramos perfeitos demais para existir. Era bonito demais para ser fácil amar.
Ele cresceu um pouco. Ela tampouco crescera. Mas ao que parece, um ainda pensava muito no outro, ou queriam que fosse assim.
O tempo, que de amigo só tem um pouco quando nos permite alcançar o futuro, foi cruel demais demorando a passar e nos fazer passarmos outra vez um pelo outro.
Na nova cidadezinha a menina vivia, estudava, trabalhava, sem querer ainda sonhava.
Naquela mesma cidadezinha o menino crescia, estudava, trabalhava, sem ela saber no que mais ele sonhava.
Dia desses, antes do dia ser deles, encontraram-se em um dia que deixou de ser qualquer porque estavam juntos. O encontro entre os olhos pareciam não ter mudado muita coisa, e a menina mal conseguia equilibrar-se nas pernas. Que lindo continua ele. Que doce seu sorriso, ainda.
Que tempo!
Eles estavam crescidos, mesmo sem perceberem. 
Eles estavam comprometidos. Ele estava noivo. Ela namorava os ofícios do trabalho sem folga. Ele planejava algo, ela queria ser algo para ele. Uma conversa nada estranha, pois os dois esqueciam dos mundos que agora viviam e entregavam-se aos papos bobos de quando eram jovens demais.
E outra vez despediram-se. Desta vez ele quem foi embora. Cabeça baixa, chutando as pedrinhas no chão, e ela sentada na mesma calçadinha com desejos vivos.
Que sina a nossa. Sempre se despedir...
"Ou não, né Zé? Talvez a nossa sina seja sempre se encontrar".
Juntos outra vez. Neste agora, neste tempo inimigo que rasgou e costurou tanta coisa na gente.
Ele não estava mais noivo. Ela não namorava mais dias turbulentos. Eles sentiam-se livres. Num salão de dança qualquer. Foi ele quem a chamou para dançar. Sem saberem que passo seguir, ela o conduzia, ele a segurava, eles se sentiam, a música tocava. Pela primeira vez eles estavam juntos mais do que perto, sentados na calçadinha. Eles estavam em um abraço só. Seu braço em sua cintura, seu rosto enconstado no dela, suas pernas e pés seguiam na mesma direção e era possível sentir os corações eufóricos.
Dançavam, de olhos fechados e alma aberta.
"E se a gente continuasse?" "E se a música não acabasse?" "E se a gente casasse?" "E se o tempo parasse?" "E se o pra sempre existisse?" "E se nada mais houvesse?" "E se o dia permanecesse?" "E se o sol não nascesse?" "E se a noite durasse?" "E se os dois se amassem?"
Eis que então a menina e o menino estiveram juntos como sempre desejaram. 
E ali se amaram, e ali riram das besteiras um do outro, e ali dividiram a mesma xícara de café, e ali ela tocou sua música preferida para ele, e ali ele deitou no seu colo, e ali eles casaram, e ali eles tiveram seus filhos, e ali eles deram nomes para eles, e ali eles brincaram na chuva, e ali eles viram filme e fizeram guerra de pipoca, e ali eles tiveram um jantar especial em um dia comum, e ali ela telefonou para ele para saber se ele estava bem da gripe, e ali ele já sabia que a TPM dela estava próxima e já tinha três caixas de chocolates guardadas, e ali eles viajaram juntos, e ali eles deitavam na rede da pequena varanda da sua pequena casa, ali eles discutiam e ela batia nele enquanto ele a abraçava com força, e ali ele ficava com raiva, e ali ela pedia perdão, e ali ele quem se culpava, e ali eles viam o sol se pôr sentados no pequeno morro por trás de sua casinha, que ao lado tem uma calçadinha. E ali, "Perfeita Simetria" tocava. 
E ali eles viveram para sempre! 
Para sempre até o ônibus dela chegar e eles voltarem ao mesmo desejo de se encontrarem, para sempre, outra vez.

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