Do avesso, um verso se ajeita ...




domingo, 20 de fevereiro de 2011

.. e entre os olhos, o verde!




Ele tinha os olhos verdes .. se bem que não sei, ao certo, se seus olhos eram verdes ou se verde era o que refletia nos meus ao ver os dele. Não sei .. mas, sim, eram verdes, eram sim!
Por uns 15, eternos, minutos eu tentei entrar naqueles olhos, olhos cansados, pesados, olhos .. verdes.
De tão pesados que pareciam, eles fitavam o chão, quase sempre. vez ou outra eles se permitiam encontrar-se com os meus, mas eram medrosos esses olhos.. Eles não me deixavam vê-los por muito tempo. Eles não me olhavam como eu os via, não mesmo!

Era curioso, pois, quanto mais eles me evitavam e se desviavam de mim, dos meus .. esses meus, agora azuis, buscavam-nos, incessante e incasavelmente.

Havia muita gente na sala de espera, muitas vozes, muito barulho externo .. mas o silêncio dos olhos, verdes, dele , era o que mais me atraia.
Eu queria que eles me vissem .
Eu queria que eles me ouvissem.
Eu queria .. que .. se ..
Eu queria .. eles .. me .. mim!

A moça da recepção chamou o próximo nome da lista .. o seu, o nome do dono dos olhos.
Foram mais 15, longos, minutos .. e eu do lado de cá, tentando imaginar o que aqueles olhos estavam sentindo, do que eles sofriam?

- Ele tem câncer! Na pele.

Hãn? Indaguei à moça que, talvez nos gritos do meu silêncio curioso, quis me explicar a tristeza, mesmo verde, daqueles olhos .. que, tão meus, agora, pareciam ..
Não era isso que eu queria saber. Queria saber se ele tinha sonhos, se ele tinha tardes sempre alegres com os amigos, se ele tinha um mp3 com fones azuis por onde saiam as suas músicas preferidas e quais eram essas músicas .. eu queria saber se ele tinha medo de trovão, de ficar sozinho .. se ele tinha uma caixinha com papel de bala velho, guardado, e novo nas recordações .. queria saber se ele tinha um amor ..

- Câncer!

Tudo o que ele mostrava ter era isso? Tudo o que as pessoas viam nele era essa merda de câncer que quer dominar e nos condenar ao vago da esperança?
Chorei em silêncio ..

A porta do consultório se abriu .. desta vez consegui encontrá-los, ainda verde, olhos .. E veja, vejo .. eles sorriram .. sim sorriram ..
No meio de uma face ferida, com a pele rosada, e o sorriso quase sem força pra aperecer .. seus olhos sorriram, sorriram para mim .. e foi um tchau tímido.

Até mais, belos olhos verdes .. Até mais vezes, até mais vê-los .
...
Perguntei à moça: - Você viu o coração dele?
E ela: - do que tem câncer?
...

5 comentários:

  1. De verdade isso, Flor?

    Dá uma vontade de abraçar quando a gente encontra olhos verdes, como esses, né? Abraçar como se tivesse dizendo "óh, um abraço só pro caso de a gente não se ver mais" [sorriso]Como se fosse o abraço, um tipo de carimbo pra não esquecer mais.
    Sei lá o que eu tô dizendo, Flor! rs
    Sei que foi Lindo... tá Lindo... suas palavras são lindas e me encantam.
    Olhos verdes tbm o fazem *-*

    Um beijo, viu? ;*

    Ah, e cada vez mais raro ver, além da pele, o coração, não é?

    Outro beijo, pra tu ;*

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  2. Ai que sentir é tão...
    Queria explicar o que senti quando li o texto de Jamy, queria mesmo, só pra vcs saberem a intensidade e o tamanho dos sentimentos que palavras despertam em mim, mas como fazer pra explicar algo que eu só sei sentir?

    E como definir algo que é indefinivel e logo ilimitado?

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  3. Sim, de verdade, Flor .. bem de verdade é mais esse desejo de abraçar mesmo. e nem soltar. Que bom que gostou, viu?

    E Nane .. se definem sentimentos assim como se definem coisas indefinidas...
    Obrigada pela visita, pelas palavras e por se deixar tocar por elas, obrigada sempre!

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  4. Olá ! Parabéns pelo Blog e pelo ótimo conteúdo ! A Blogosfera precisa de material assim.
    Gostei muito das postagens e do designer. Um cantinho muito criativo e aconchegante.
    Desde já ,estou seguindo te parabenizando mais uma vez por conseguir reunir tantas coisas sadias e interessantes.

    Um grande abraço,

    Will Lukazi.

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  5. Obrigado por seguir o meu blog. Estou lhe seguindo também!

    Adorei as suas reflexões contidas aqui.

    Tem texto novo... confira:
    "Uma ode aos sorrisos despretensiosos, aos choros escondidos, às palavras malditas, às atitudes impensadas. Não podemos controlar as nossas emoções, assim como nunca conseguiremos saber o quão importante é o poder de um sentimento até perdermos ele nos ventos de nossa pequenina existência. Ficaremos calados até as próximas palavras, até os próximos capítulos."

    Um abraço!

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