Do avesso, um verso se ajeita ...




terça-feira, 29 de março de 2011

Sem voos ..

Talvez você não acredite, apenas ouvindo-me dizer .. Mas foi verdade!
Lembra de ontem, quando a noite fez-se calada, calada de verdade, sem nenhuma estrela cochichando com os amantes a contemplá-las? Pois bem .. foi bem nesta noite. Bem nela que eu acordei de verdade!

Eu ainda estava rolando na cama, como se tivesse adivinhando que isto ia acontecer. Senti uma fraqueza por dentro, como se meu peito estivesse fraco e não conseguisse mais segurar a amargura do meu coração preocupado, e eu não sabia o que era. Ou sabia e não queria acreditar que sabia? Ah, prefiro crer que não sabia. É mais cômodo.

Primeiro a minha janela abriu com a força do vento que balançavam as folhas nos galhos da árvore que me acordava, depois, invadindo meu quarto, ele sacudiu as cortinas que tentam impedir o sol entrar pela manhã, fazendo-me dormir mais um pouquinho. Ele veio tão forte que derrubou-as. Quis levantar-me para fechá-la, mas, acredite, eu estava com medo.

Sim, logo eu que nunca sentira medo algum. Nem mesmo quando a lua desistiu de mim naquela noite de despedida. Nem mesmo ali eu tive medo, nem mesmo!

Mas nesta noite eu senti .. e sentir medo é pior do que tê-lo.

Minha única atitude depois dessa entrada bruta do vento no meu quarto, junto com aquele silêncio medonho da noite que, até as estrelas fez calar, foi eu me cobrir toda, dos pés a cabeça. E fiquei ali, esperando o vento ir embora .. Um dia ele ia ter de ir!

Não chorei, não mesmo.

Senti medo sim, assumo, mas chorar? Ah isso não mais, eu havia prometido desde aquela nossa despedida. Lágrimas nunca mais molhariam minha face, ainda mais por nada. Ou, aparentemente nada!

Pensei em ir para o quarto de mamãe, mas sabia que ela ficar a noite toda falando -"você já está grandinha para sentir medo" "é só o vento" .. Então fiquei ali.

Devagar ele foi .. ficando quieto, ficando fraco, ficando ausente .. e eu também!

Os panos da cortina no chão pararam de dançar e a janela aquietou-se. Nada mais do que a noite lá fora quieta, agora. Descobri o lençol de minha cabeça, também devagar, criei coragem, ou busquei a que eu já tinha, mas que só estava com 'calundú' [como diz mamãe], e levantei-me.

Nesse momento, eu me senti pesada. Era estranho aquele peso em mim, era como se tivesse caído algo sobre meu corpo, meu peito tava sangrando por dentro, sabe? .. e ao mesmo tempo, o vazio. Não aquele vazio por completo, mas uma boa parte de mim que me mantêm cheia de luz. Essa parte que me ilumina era a que estava, em mim, vazia ..

Mas o que acontecera? Que vento foi esse? Que noite é essa? Que vazio, que angústia .. que medo?!

Cheguei à janela e .. sei que você não vai acreditar, eu não quis acreditar também, mas vi e, sim, eu chorei desta vez ..

Lá estava, estava caída, no chão, sem voz, sem voos.

Lá estava só ..

Lá estava anjo ..

Lá estava Eu!

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