Do avesso, um verso se ajeita ...




quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vou-m'Embora!


Sim, estou decidida! Vou-me embora.

Já desfiz as malas, esvaziei o peso, joguei fora as tralhas e roupas velhas, tranquei as portas .. vou partir e desta vez, de verdade!

Não que das outras fosse mentira. Mas é que desta vez eu vou por inteira! Sempre tive medo de gente. Sempre tive medo de solidão. E sempre achei que uma coisa não podia viver no mesmo ambiente que a outra. Mas, hoje, sei que é possível. E como é ruim quando nos sentimos sós no meio de tanta gente.

Essa é a pior forma de ser sozinho. Aglomerado de pessoas me sufoca, parece que meu fôlego está sendo roubado, sei lá! Isso é estranho. É, talvez eu não quisesse assumir o que sempre em mim foi óbvio: eu sou anti-social! Não é que eu não goste disso. É que, eu sinto saudade do lugar de onde eu vim, sabe? Por isso estou indo embora. Na verdade estou voltando pra casa.

Levarei tudo de que preciso: meu corpo, meu cheiro, meus cabelos [presos não mais], minhas mãos desta vez quietas, meu sorriso sorrindo junto com os meus olhos, meus pés sentindo o abraço do chão, minha alma leve e livre como ela tem de ser. É assim que eu vou. É assim que eu sou mas que, ultimamente, este mundo obrigou-me a sufocar. Mas agora já deu. Estou indo para o meu lugar.

Onde as pessoas existem e vivem - não sobrevivem. Onde as pessoas não andam apressadas, nem com a cabeça baixa dando mais atenção ao celular do que às pessoas que passam por elas, ou que estão ao seu lado. Estou indo para o lugar onde as pessoas, ao toparem em mim na rua, peçam-me desculpas, ou se sou eu quem as topo, aceitem as minhas, ao invés de sugerir, com arrogância, que eu compre óculos novos. Que bom que no meu lugar nem de óculos eu precisarei mais.

Estou indo embora para o lugar onde os idosos não são puxados, pelos seus companhantes, por seus agora, frágeis braços, nem precisem ficar horas em filas de banco e/ou hospitais esperando para serem ‘mal’ atendidos.

Vou para onde as pessoas respondem o meu ‘bom dia, boa tarde e boa noite’ quando eu os cumprimento no ponto de ônibus, mesmo sem conhecê-los. Aonde os meus amigos passam por mim e, ao perguntarem como estou, esperam eu responder e não que saem correndo, atrasados, cansados.

Estou indo para lá.

Lá as pessoas não revidam mágoa com mágoa, violência com violência, dor com dor, ferida com ferida. Lá as pessoas não só sabem o significado da palavra perdão, como a vivem de verdade. Lá é o meu lugar. É onde eu me sinto, apesar de só, cheia de companhia. Cheia de mim, cheia de poesia. Quem não entende, quem não compreende, vai me chamar de louca, eu sei. Mas quem é feliz nesse mundo normal? Normal? Isso soa estranho. Acho que normal sou eu. Eu que não me conformo com filhos gritando com pais, com alunos desrespeitando professores, adolescentes espancando idosos, adultos abusando crianças, gente maltratando animais ... normal sou eu que morro com tudo isso!

Normal é lá para onde eu vou.

...

Pés descalços agora.

Cabelos soltos, livres tocando minha face.

Braços abertos a espera do abraço.

Todo ar eu trago para dentro de mim.


Adeus mundo, vasto mundo, tão imundo!

Adeus!

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